O presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, decidiu suspender a reunião do executivo camarário, quando faltava discutir o ponto de situação de um novo acordo para o Estádio Cidade de Coimbra, cujo atual contrato termina no final deste mês, depois de o município o ter denunciado em 2023.
O motivo da suspensão prende-se com a vontade de o município "chegar a um entendimento" com a Associação Académica de Coimbra - Organismo Autónomo de Futebol, que gere aquele equipamento que é propriedade da autarquia e que ainda está a ser pago por esta.
Em falta, está um programa de desenvolvimento desportivo por parte da Académica, que milita na Liga 3, que permitiria usar parte das receitas da exploração do estádio (só em rendas arrecadou mais de 300 mil euros na época 2022/2023) nos escalões de formação e na constituição de uma equipa de futebol feminino.
Segundo José Manuel Silva, o programa de desenvolvimento desportivo foi pedido a 11 de junho e novamente a 03 de julho, mas o documento pretendido ainda não foi entregue pela Académica.
É objetivo do atual executivo que o novo acordo devolva à autarquia outra capacidade de atuação sobre aquele equipamento desportivo, nomeadamente a realização de grandes eventos (o acordo em vigor determina que qualquer receita fica para o clube) e a sua cedência gratuita a outros clubes do concelho.
No sábado, em comunicado enviado à agência Lusa, a Académica disse que "continua empenhada em conseguir chegar a um consenso" com a Câmara de Coimbra, comprometendo-se a apresentar durante o fim de semana um programa de desenvolvimento desportivo para garantir que parte das receitas das rendas dos espaços do Estádio Cidade de Coimbra fique na esfera do clube, para apoio à formação e ao futebol feminino.
No entanto, o documento ainda não chegou ao município, deu nota José Manuel Silva.
"Acreditamos que vamos chegar a um entendimento", vincou.
A Câmara de Coimbra pretende que a Académica, com base na receita das rendas dos espaços do estádio, assegure a manutenção e conservação do estádio, admitindo que o remanescente possa ser utilizado nos escalões de formação e no futebol feminino, suportando-se num parecer jurídico que afirma que o município não pode financiar atividades profissionais daquele clube de futebol.
Para a vereadora do PS Regina Bento, o novo acordo é "um ponto sensível", criticando a demora para se chegar a um consenso entre autarquia e clube de futebol.
"O contrato foi denunciado há um ano e, com um ano, é incapaz, a poucos dias de terminar o acordo, de conseguir trazer uma proposta consensualizada", apontou.
Regina Bento acusou ainda o executivo de uma "atitude de profundo desrespeito por uma das instituições mais emblemáticas da cidade" e pediu a prossecução "do interesse público".
"Não queremos que a Académica volte a alcançar a glória? É agora que a Académica precisa de apoio", defendeu, questionando que estratégia o executivo tem para aquele equipamento.
Na resposta, José Manuel Silva recordou que para consenso é preciso vontade das duas partes, sublinhando também que a decisão é jurídica e que, acima da autarquia e da Académica, "está a lei".
O presidente da Câmara de Coimbra recordou ainda que a Académica está na 3.ª divisão, "dispondo do estádio a seu belo prazer".
"O problema não está no estádio, está na gestão desportiva e financeira da Académica, que chegou à situação de dupla falência e à terceira liga", apontou.
O vice-presidente, Francisco Veiga, aclarou ainda que o documento apresentado pelo clube até ao momento "é muito deficiente".
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