Bicampeão mundial de sub-20 (1989 e 1991) e selecionador da principal seleção das 'quinas' (1991/93 e 2008/10), para além de uma vasta carreira internacional ao nível de seleções e em clubes como o Real Madrid e o Manchester United, nos ingleses enquanto adjunto, o técnico foi uma figura importante na evolução do futebol luso, que considera agora mais forte do que nunca.
"Eu acho que o percurso que foi feito tem todo o mérito, e chegar a ganhar o Campeonato da Europa e a Liga das Nações foi o maior expoente. Para as diferenças em relação aos dias de hoje, muitos de nós lutámos e eu fui apenas a face de um trabalho coletivo de muita gente. Nós passámos de ter as brilhantes 'gerações de ouro' para o que eu chamo hoje de uma 'dinastia de ouro'. Temos no legado técnico uma garantia para uma continuidade sustentada", refletiu.
Em entrevista para a cimeira Thinking Football, que encerra hoje e decorre no Porto, Carlos Queiroz recusa saudosismos e garante que o futebol moderno não perdeu a sua essência, mas, ao invés, foi alvo de um processo de evolução que transforma o perfil com que os jogadores se apresentam.
"Tivemos uma fase do jogador romântico, passámos para os jogadores profissionais, depois os jogadores que viraram empresas e, hoje em dia, temos quatro ou cinco lá no topo que são indústrias. Toda esta evolução do perfil do jogador tem depois a ver com tudo o resto, com a intervenção do treinador, dos dirigentes, etc. É nesta harmonia e competitividade que o futebol moderno vive e, por isso, é mais espetacular e belo. Ganhou uma dimensão cultural, social, técnica que não tinha", constatou.
Segundo o treinador, também o jogo em si está muito diferente quando comparado àquele que se praticava na década passada, com a tomada de decisão dos jogadores a ser muito mais rápida, algo proporcionado por vários fatores como a melhoria das equipas técnicas, da qualidade do treino e das infraestruturas dos clubes.
"Não é melhor nem pior, é diferente, mas o jogo é jogado a uma velocidade que não tem comparação ao que se jogava sequer há 10 anos, há 20 muito menos. Podemos avaliar a capacidade de decisão dos jogadores a uma velocidade incrível. Não quer dizer que o Simões e o Eusébio não jogassem este jogo, mas o que difere é que os jogadores de hoje em dia evoluem em condições de velocidade de decisão que não existiam nesse tempo", explicou.
Também as relações interpessoais e a comunicação com os atletas têm de ser diferentes, defende Queiroz, na que considera ser a próxima área de grande especialização no futebol, e exemplificou a forma como devem ser confrontados com o seu rendimento num episódio que envolve Cristiano Ronaldo, Wayne Rooney e Ryan Giggs.
"Quando comecei no Manchester United a fazer experiências, fizemo-lo com Cristiano Ronaldo e Rooney. Tínhamos um equipamento que fazia com que recebessem toda a informação dos parâmetros de performance nos jogos e que os comparava aos melhores da liga nas suas posições. Isto foi importante para estimular e desenvolver esse desejo de a cada dia ser melhor. Nem passados dois meses, Giggs entrou no meu gabinete e perguntou por que é que só eles dois tinham esses resultados. Decidimos estender a todos", contou.