"O desporto olímpico não é saudável e, se calhar, não devia dizer isto, porque vai desmotivar muitas crianças e jovens, mas não é saudável e isso vai ter um custo", assumiu Bárbara Timo.
A judoca falava hoje no segundo congresso S4 (Safety, Security, Service at Sports Events), organizado pela Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto (APCVD), que decorre até quinta-feira.
No painel sobre "Espírito Olímpico: valores que vão além do pódio" participaram a judoca olímpica Bárbara Timo, e os atletas paralímpicos Miguel Vieira (judo) e Miguel Monteiro (lançamento do peso).
A afirmação foi corroborada por Miguel Vieira e Miguel Monteiro que, a par dos treinos diários, têm a sua vida profissional: Miguel Vieira nos recursos humanos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e Miguel Monteiro que viveu a fase final de engenharia industrial a três meses de participar em Paris2024.
Numa conversa de 45 minutos, com histórias de vida e desportivas, os três atletas admitiram que "a resiliência, a flexibilidade e adaptabilidade de um camaleão" estão na base das suas vidas.
Bárbara Timo reconheceu que "um atleta tem de ser de carne e de ferro, mas é preciso saber quando é de carne e quando é de ferro", explicando que necessitou de uma "equipa multidisciplinar" para a acompanhar.
"O treinador, o psicólogo, o nutricionista, porque peso 70 quilos e desafiei-me a competir na categoria de -63 kg e isso obrigou-me a treinar e a competir com fome", reconheceu.
Miguel Vieira contou que, ao longo da vida académica, decidiu ir a uma festa, mas que essa foi a única vez.
"Desde o segurança à porta, aos colegas no interior da festa", todos lhe perguntaram o que estava ali a fazer, uma vez que era "um atleta olímpico, não podia estar ali, nem beber".
Já Miguel Monteiro, campeão paralímpico do lançamento do peso F40 nos Jogos Paris2024, explicou que passava os fins de semana em Mangualde a treinar, para além dos treinos diários que cumpria em Aveiro, onde estudava.
Miguel Vieira, que foi operado há 15 dias ao ombro direito, revelou que nos Jogos Paralímpicos de Paris "já estava lesionado" e que foi isso que quis dizer quando assumiu na capital francesa que "não estava bem".
"Mas não pude dizer nada na altura, porque isso ia influenciar negativamente a minha seleção e eu não podia fazer isso, então não partilhei. Ainda por cima, eu era o capitão da seleção, então fiquei em silêncio", admitiu.
Um silêncio que Bárbara Timo realçou para reforçar as suas palavras de que "ser atleta olímpico não é saudável, porque guardar este tipo de informação tem de mexer muito com as emoções de uma pessoa".
"Não fui para Paris para competir, fui para disputar medalhas. Ter ficado logo ali [eliminada no primeiro combate] foi muito complicado. Não sei reagir a uma derrota, só sei reagir após uma derrota e depois desse luto", admitiu Timo.
Leia Também: Telma Monteiro confirma final da carreira olímpica