"[Queremos] passar a mensagem de que nós temos que aproveitar as oportunidades, e descobrir as nossas paixões, e os nossos interesses. E temos ali várias horas, focadas, logo no primeiro dia, exatamente neste ponto, para identificarmos, descobrirmos quais são as nossas paixões, quais são as áreas que despertam mais interesse em nós. Porque isso é meio caminho andado para que as coisas corram bem. Ou, pelo menos, não corram tão mal", declarou à agência Lusa.
Presidente da Fundação do Desporto, Susana Feitor é uma das formadoras de "Potencia o Teu Futuro - Descoberta e Desenvolvimento Pessoal", uma iniciativa da Comissão de Atletas Olímpicos, que decorre hoje e quarta-feira no Comité Olímpico de Portugal.
"Temos duas coisas certas na nossa vida: uma, é que vamos todos morrer. A outra, é que não vamos ser atletas a vida toda. Portanto, é necessário preparar [o pós-carreira]. [...] Uma das questões principais da formação é alertar e identificar para as competências que os atletas adquirem ao longo do tempo. Agora, vamos otimizá-las, e vamos focá-las, transferi-las, às vezes até digo traduzi-las, para outra área", explicou.
Nesta formação, os atletas poderão descobrir quais as suas paixões e interesses fora do desporto, com a antiga marchadora a definir como "energia desperdiçada" o tempo investido em áreas desadequadas.
Hoje um rosto da necessidade de planeamento do pós carreira, a cinco vezes olímpica, entre Barcelona1992 e Pequim2008, reconhece nem sempre ter sido assim.
"Na minha carreira, tive muitos momentos com interferências de lesões. E há uma altura que, entre o ciclo de Sydney e Atenas, ou seja, 2000 e 2004, que após uma série de situações, novamente lesões, eu realmente faço um planeamento, penso o que é que eu realmente vou fazer quando terminar a carreira. Porque eu estava em Engenharia [Florestal], no Instituto Superior de Agronomia, a estudar, e não me estava a sentir feliz, então tive necessidade de fazer uma mudança", detalhou à agência Lusa.
Feitor fez então "o primeiro grande plano" sobre o que queria fazer quando terminasse a carreira, mudando-se para o curso de Ciências do Desporto, mais especificamente a vertente de Exercício e Saúde.
"Apesar de estar já envolvida na Comissão de Atletas [Olímpicos], e estar envolvida em associativismo, e sentir que podia estar ligada ao desporto, gostava muito de ter uma componente que tivesse a ver com hábitos de vida saudáveis, que tivesse a ver com essas tendências todas que, entretanto, se desenvolveram, de alertar as pessoas e sensibilizar para a prática do exercício", justificou.
Depois dessa "primeira grande reflexão", que a levou inclusive a ponderar terminar a carreira -- algo que só viria a acontecer em 2016 -, foi "agarrando determinadas oportunidades" que foram aparecendo.
"À medida que eu fui avançando na carreira, efetivamente eu não tinha um plano definido, que é aquilo que a gente agora quer ajudar os jovens atletas e quem vier fazer a formação [a conseguir]. É que eu não estruturei o meu plano B. Eu foquei-me tanto naquilo: 'Não, eu vou ter que acabar a minha carreira em grande. Eu quero fazer os Jogos Olímpicos de Pequim em 2008 e sair em altas e tudo mais'. E deixei um bocadinho de lado esse plano B", admite.
Medalhada de bronze nos 20 quilómetros marcha nos Mundiais de 2005, a também antiga presidente da Comissão de Atletas Olímpicos concede que não é fácil nem física, nem mentalmente planear o pós-carreira.
"Não é só estruturar um plano num Excel ou num quadro e numa folha e, quando chegar à altura, ativar aquilo. Não, é necessário preparar, não é? É necessário continuar a estar, é necessário ir a formações, é necessário ir, se calhar, agarrando oportunidades que vão aparecendo, principalmente nas alturas menos ocupadas da época", vincou.