Em 27 de abril, perante um recorde de 26.876 sócios votantes, Villas-Boas tornou-se o 34.º líder da história 'azul e branca', ao somar 21.489 votos (80,28%), contra 5.224 (19,52%) de Pinto da Costa e 53 (0,2%) do empresário e professor Nuno Lobo, candidato derrotado em 2020.
Habituado a ser unânime no FC Porto, o então dirigente mais antigo e titulado do futebol mundial, que completará 87 anos em 28 de dezembro, acusou o momento mais delicado do seu 'reinado', que motivou mesmo o inédito aparecimento desde 17 de abril de 1982, data da sua primeira vitória eleitoral, de duas candidaturas opositoras no mesmo sufrágio.
Pinto da Costa deu lugar a um ex-treinador por si escolhido em 2010/11 - época marcada pela conquista de quatro troféus em cinco possíveis, incluindo a I Liga e a Liga Europa, último dos sete êxitos internacionais do FC Porto -, mas demorou um mês a efetivar em pleno a transição na SAD, responsável pela gestão do futebol profissional 'azul e branco'.
Empossado como líder do clube em 07 de maio, André Villas-Boas, de 47 anos, entraria em funções na SAD no dia 28, quase 48 horas depois de os 'dragões' terem vencido a Taça de Portugal pela terceira época seguida, fruto de uma reviravolta sobre o recém-campeão nacional Sporting (2-1, após prolongamento), no Estádio Nacional, em Oeiras.
O FC Porto festejou a 69.ª e última conquista futebolística de Pinto da Costa, que juntou 2.591 troféus em 21 modalidades nos seus mandatos, e evitou uma temporada em 'branco', esbatendo nessa final os 18 pontos de distância para os 'leões' no campeonato.
Terceiro colocado pela primeira vez desde 2015/16, a equipa então treinada por Sérgio Conceição falhou a quinta presença consecutiva na Liga dos Campeões e teve entrada direta na Liga Europa, volvida uma campanha eleitoral tensa e sem precedentes no universo 'azul e branco', com acusações e críticas entre os dois principais candidatos.
Pinto da Costa anunciou alguns negócios estruturantes nas semanas anteriores ao ato eleitoral, encabeçados pela construção de uma academia do FC Porto na Maia ou pelo acordo com a Ithaka para a exploração comercial do Estádio do Dragão, no Porto, antes de oficializar a renovação contratual com Sérgio Conceição a dois dias da ida às urnas.
Recordista de jogos (379), vitórias (274) e troféus (11) no banco portista, o ex-internacional português viria a acertar a rescisão com André Villas-Boas em junho, após uma polémica rutura com Vítor Bruno, que o coadjuvava há 12 anos e coincidia desde 2017/18 nos 'dragões', mas foi a primeira aposta para técnico principal da nova direção.
A viragem presidencial também transformou uma renovação apalavrada entre Pepe e Pinto da Costa na despedida em fim de contrato do defesa central e capitão, de 41 anos, que venceu 13 troféus em duas fases pelo FC Porto (2004-2007 e 2019-2024) e terminou a carreira no verão, na sequência da participação pela seleção portuguesa no Euro2024.
Pepe juntou-se ao avançado iraniano Mehdi Taremi, autor de 91 golos nas últimas quatro épocas e reforço do campeão italiano Inter Milão, entre as saídas sonantes a custo zero dos 'dragões', panorama repetido nos últimos anos da anterior administração com os outrora influentes Iván Marcano - regressaria em definitivo em 2019/20 -, Yacine Brahimi, Héctor Herrera, Vincent Aboubakar, Moussa Marega, Chancel Mbemba e Matheus Uribe.
Ao aplicar um novo modelo organizacional, a gestão de Villas-Boas visou a otimização de custos, mas herdou desde cedo problemas de tesouraria, tendo as infrações ao 'fair play' financeiro da UEFA custado ao FC Porto uma multa de 1,5 milhões de euros (ME) e a exclusão das provas europeias por uma época - suspensa em regime probatório de dois anos.
Os desafios estenderam-se ainda ao relacionamento com as claques, sobretudo os Super Dragões, cujo protoloco com a SAD foi revisto no verão, após a Operação Pretoriano, que julgará 12 arguidos em 2025, entre os quais Fernando Madureira, ex-líder daquele grupo organizado de adeptos, a quem foi decretado o regime de prisão preventiva em fevereiro.
Incidindo em 31 crimes, a acusação do Ministério Público (MP) denuncia uma eventual tentativa de os Super Dragões "criarem um clima de intimidação e medo" numa Assembleia Geral (AG) do FC Porto, em novembro de 2023, para que fosse aprovada uma revisão estatutária "do interesse da direção" de Pinto da Costa.
O clube e a SAD constituíram-se assistentes desse processo, ao qual se seguiu em maio a operação Bilhete Dourado, na qual o MP suspeita de conluio entre funcionários do clube e uma empresa associada e membros da claque na distribuição e venda de bilhetes para jogos de futebol dos 'dragões', que seriam, depois, comercializados de forma clandestina.
Além de ter expulsado quatro sócios, incluindo Fernando Madureira, e suspendido outros seis, por causa dos incidentes na AG, os 'dragões' pediram uma auditoria forense aos últimos anos do 'reinado' de Pinto da Costa, numa altura em que a equipa de Vítor Bruno tem sido contestada pelos resultados e exibições instáveis.
O FC Porto até entrou a vencer em 2024/25, ao inverter três golos de desvantagem frente ao Sporting na Supertaça Cândido de Oliveira (4-3, após prolongamento), em agosto, em Aveiro, mas enfrentou no mês passado a primeira série de três derrotas em 16 anos, na qual sofreu quatro golos do Benfica para a I Liga 60 anos depois (4-1), na 11.ª jornada, antes de ser afastado pelo Moreirense na quarta eliminatória da Taça de Portugal (2-1).