Manuel Sérgio, o grande pensador do Desporto pós-25 de Abril de 1974

O professor catedrático Manuel Sérgio, que morreu hoje aos 91 anos, foi um dos grandes pensadores do desporto após o 25 de Abril de 1974, com décadas de pedagogia, filosofia, prática dirigente e política.

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Lusa
19/02/2025 23:18 ‧ há 2 dias por Lusa

Desporto

Manuel Sérgio

Na nota de pesar, a Federação Portuguesa de Futebol lembrava-o como "homem gentil e de grande sabedoria", duas qualidades que espalhou ao longo de décadas em todos os campos de trabalho a que se dedicou, da Assembleia da República, em que foi deputado pelo Partido da Solidariedade Nacional, de que foi o primeiro presidente, entre 1991 e 1995.

 

O homem que nasceu na Ajuda, em Lisboa, em 1933 viria a ser mentor de nomes como José Mourinho, José Maria Pedroto ou Jorge Jesus, com quem manteve contacto pela vida fora, para citar os mais célebres. Manuel Sérgio foi também dirigente do 'seu' Belenenses, de que foi sócio durante quase 60 anos.

Exerceu no Instituto Superior de Educação Física e na Direção-Geral dos Desportos, antes do 25 de Abril, que veio trazer uma abertura do país pelo desporto que ajudou a moldar e a pensar a partir da Faculdade de Motricidade Humana e outros fóruns, a par de nomes como o antigo presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Manuel Constantino, que morreu no ano passado.

"Vinham perguntar-me, no estrangeiro, porque é que o país estava metido naquela guerra... os métodos de treino mais recentes não chegavam a Portugal. Não é por acaso que o nosso futebol progrediu tanto a partir de determinada altura", afirmou, numa entrevista à Lusa em 2024.

Antes do 25 de abril, viveu num país em que tinha "medo de falar, porque o outro tipo podia ser informador da PIDE", e depois do 25 de Abril sentiu uma mudança no setor em que trabalhava, apresentando de seguida vários elementos de uma visão crítica do país e do setor desportivo.

Foi com essa liberdade que o filósofo e educador, que foi também deputado e dirigente desportivo, pôde assinar várias obras que o colocaram como um dos principais pensadores em Portugal.

"Para uma nova dimensão do desporto" e "Para uma renovação do desporto nacional" foram publicados em 1974, seguindo-se "Desporto em Democracia", em 1976, e uma série de obras filosóficas sobre motricidade humana e desporto, culminando em "Para uma epistemologia da motricidade humana", em 1987.

Catedrático da Faculdade de Motricidade Humana, viu a Universidade Católica abrir a Cátedra Manuel Sérgio, tendo o professor dedicado grande parte do seu trabalho em filosofia ao estudo desta área.

"Porquê desporto e transcendência? Eu criei o paradigma, a partir da minha tese de doutoramento, que norteia a FMH, num trabalho intitulado 'Para uma epistemologia da motricidade humana'. Como é que eu hoje defino a motricidade humana? Movimento intencional e solidário da transcendência", resume Manuel Sérgio, em entrevista à Lusa.

Para este académico, "o que se estuda no desporto é o homem a superar-se", e essa conceção do ser humano como sendo "sempre uma tarefa por cumprir" norteou-lhe o trabalho científico ao longo de décadas, com mais de meia centena de títulos dedicados à articulação desta área com a filosofia e a política.

De resto, numa das últimas entrevistas em vida, o homem que visitava recorrentemente o Brasil para aulas e palestras não deixou de criticar o "Deus-lucro" que governa o desporto atual, na sua opinião, e que "obriga o jogador a dar mais do que a saúde permite".

"O dinheiro não deve valer mais do que uma lágrima humana. Defendo um desporto de alta competição em que haja respeito pelo jogador, e por vezes este tem de subordinar-se, aos imperativos dos media ou dos homens da televisão... tem de ser respeitado em todas as circunstâncias, como qualquer ser humano", remata.

Ocupou cargos e funções infindáveis, do futebol ao andebol, basquetebol, deu aulas de história e português, chefiou vários departamentos públicos, esteve na génese da ideia política do Provedor do Animal, deixando o conceito de motricidade humana como principal legado, tanto no campo académico como na prática do treino e pedagogia desportiva -- José Mourinho, que cita o antigo professor como profunda influência na carreira, que o diga.

Em abril de 2024, dizia à Agência Lusa que professores universitários, sob orientação de José Eduardo Franco, têm vindo a trabalhar a sua "Obra Seleta", com quatro volumes de 400 páginas cada.

"Estão a resumir a minha obra. Dará umas 1.600 páginas, e em letra muito miudinha...", contou então, aquando do lançamento do segundo volume.

O 'pai' da Motricidade Humana morreu hoje, aos 91 anos, e o mundo do desporto reagiu de imediato, com José Mourinho a lamentar a perda "do homem, do amigo".

"Depois do jogo, já não terei a sua palavra feliz ou o seu comentário motivador", escreveu, na rede social Instagram.

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