Nas imediações do Estádio Abel Alves de Figueiredo, a roupeira, Maria Antónia Viana, está hoje menos ocupada do que na véspera, mas sem deixar de exprimir "a alegria" pela vitória de terça-feira sobre o Elvas (2-0), que tornou os 'leões' de Santo Tirso o primeiro clube do quarto escalão a disputar uma semifinal da 'prova rainha' e que desencadeou uma festa ainda hoje palpável na cidade nortenha.
"Não está a ser como outro dia qualquer. Está a ser como um feriado. Ainda continuamos em festa. Nas pastelarias e padarias, não se fala de outra coisa que não o Tirsense", afirma à Lusa a técnica de equipamentos, ligada ao clube há seis anos.
Convencida de que o Tirsense é a equipa com "mais potencial" na Série A do Campeonato de Portugal, competição em que ocupa o nono lugar, a responsável, de 50 anos, começou a preparar o jogo com os alentejanos na segunda-feira e sentiu os atletas confiantes, ideia também expressa pelo secretário-geral do clube nortenho, Alberto Festa.
Primo e homónimo do 'magriço' que realizou três jogos pela seleção portuguesa terceira classificada no Mundial de 1966, em Inglaterra, o dirigente recorda que os jogadores estavam "muito confiantes" antes da viagem para Elvas, para defrontar um adversário, a seu ver, mais forte do que na época passada, quando derrotou o Tirsense na terceira eliminatória, e considerado favorito.
"Toda a gente dava o Elvas como favorito. Estavam cerca de 5.000 pessoas no seu estádio, mas o Tirsense entrou com personalidade. Sou muito próximo dos atletas. Todos estavam bem dispostos e confiantes num bom jogo. No final, houve festa no relvado. No balneário, cantou-se e dançou-se. No autocarro, igual, até ficarmos cansados. Chegámos a Santo Tirso às 05:00 de hoje. Estamos a fazer um caminho bonito na Taça", realça.
O corredor que ladeia os gabinetes exibe uma fotografia da plateia de 'fato e gravata' que compunha o Estádio Abel Alves de Figueiredo na década de 60 do século XX, período em que o Tirsense se estreou na I Divisão (1967/68), antes de a porta se abrir para uma sala repleta de galhardetes e de troféus, entre os quais os dos títulos nacionais da II Divisão de 1969/70 e 1993/94.
Tanto Alberto Festa, como Mário Balbeira, cobrador há 22 anos e sócio há cerca de 50, começaram a acompanhar os 'jesuítas' no final da década de 60, antes de verem a sua filiação interrompida pelo serviço militar no âmbito da Guerra Colonial, cumprido em Angola, e de a retomarem na década de 70.
Aos 71 anos, Mário Balbeira recorda-se de ver o Benfica de Eusébio jogar no Estádio Abel Alves de Figueiredo, mas sem precisar se foi na meia-final de 1970/71, quando os nortenhos perderam em casa por 3-1 antes de serem derrotados no Estádio da Luz por 5-1.
O sócio número 154 do Tirsense lembra-se também de assistir à vitória sobre o FC Porto, na Taça de Portugal de 1969/70 (1-0) e destaca o tomba-gigantes da época 1948/49, capaz de eliminar o Sporting dos 'cinco violinos' da 'prova rainha' (2-1), feito que espera ver repetido nas meias-finais da presente edição, ante o vencedor do Benfica--Sporting de Braga, de hoje.
Mário Balbeira e Alberto Festa acompanharam a equipa treinada por Eurico Gomes, que protagonizou a melhor das oito participações no escalão principal, o oitavo lugar na época 1994/95, mas também as descidas aos campeonatos da Associação de Futebol do Porto, que a equipa vestida de preto disputou em 1999/00 e entre 2016/17 e 2019/20.
"Depois de cairmos nos campeonatos distritais, é muito difícil voltar a subir. É difícil captar apoios, captar jogadores, o dinheiro é pouco. Quando começamos a subir de divisão, tudo aparece: sócios, patrocinadores", testemunha o secretário-geral.
Com o Tirsense relegado para escalões inferiores no século XXI, o vice-presidente, João Magalhães, e o presidente da assembleia geral, Ricardo Machado, sentem que o triunfo em Elvas é um passo para devolver aos adeptos o "sentimento de orgulho e de pertença para com o clube".
Também agradado com a visibilidade e com a receita que os encontros com Benfica ou Sporting de Braga vão gerar, Alberto Festa avisa que a prioridade é a Série A do Campeonato de Portugal, prova em que a equipa treinada por Emanuel Simões luta para evitar nova despromoção aos campeonatos distritais.
"A prioridade é o Campeonato de Portugal. Na Taça de Portugal, merecemos chegar até esta fase, mas nunca é prioridade. O que vier daqui para a frente é bom. Vamos ter visibilidade, vamos ter uma receita financeira que não nos passava pela cabeça. Tudo isso é bom. É um caminho bonito. Fizemos história", sentencia.
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