Conhecido atualmente pela posição que ocupa como comentador desportivo, Pedro Henriques concedeu uma entrevista ao Desporto ao Minuto onde assegurou que a arbitragem portuguesa está a construir um futuro promissor. O antigo juiz de campo explicou a razão que leva os árbitros a apitarem tantas faltas e recusa a presença de 'juízes' estrangeiros nos relvados portugueses.
A profissionalização é um dos rumos traçados para a arbitragem com o objetivo de melhorar o trabalho do profissional. Que melhorias é que esta medida trará no exercício, propriamente dito, da profissão?
Há um grupo piloto neste momento. Esses árbitros têm uma preparação física que é melhor acompanhada, fazem análise às suas exibições, analisam os jogos seguintes. Têm uma vertente mais técnica. Os árbitros profissionais preparam-se no horário de trabalho normal e, assim, conseguem estar em casa mais cedo, passar mais tempo com a família e isso dá-lhes um maior equilíbrio emocional. Isso é essencial.
Fala-se actualmente numa enorme razia de árbitros de qualidade no futebol português, mais notório após a saída de Pedro Proença. Mesmo com a profissionalização, não teme que o nível da arbitragem portuguesa caia em declínio e que isso se traduza numa diminuição da qualidade do futebol português?
Houve uma alteração do paradigma a nível de limites de idades de acesso, o que faz com que tenhamos uma equipa muito jovem, menos experiente. E com as saídas do Olegário Benquerença, do Pedro Proença ou do Paulo Batista, esta transição aconteceu de forma demasiado rápida. Há qualidade mas não há experiência. E, muitas vezes, a experiência é sinónimo de qualidade. No futuro próximo teremos um quadro de árbitros poderosos e jovens. Mas não temo uma razia de árbitros de qualidade.
Era conhecido como um árbitro com um estilo parecido com o inglês e com aquilo que são as diretivas da UEFA, intervindo apenas quando era extremamente necessário e deixando correr o jogo. O enorme número de faltas registadas na Liga portuguesa não acaba por ter influênica na qualidade de jogo e na forma de estar das equipas?
Sim, gosto mais de ver o contacto físico. Mas normalmente é mais fácil dizer que foi falta do que deixar seguir o jogo. Depois há um pouco de culpa da comunicação social, que diz que, ao primeiro toque, é falta e depois os árbitros protegem-se marcando muitas vezes esses contactos. Além disso, os jogadores sentem o encosto e caem. Acaba por ser uma bola de neve.
Chegou a falar-se da 'adopção' de árbitros estrangeiros para os jogos mais complicados em Portugal. Tendo em conta a pergunta anterior, acha que seria uma alternativa viável?
Há a possibilidade de isso acontecer no regulamento, mas não no contexto de 'não temos árbitros com qualidade e vêm outros substituí-los'. Se for uma regra a nível internacional, com acordo de vários países, em que os nossos árbitros visitem outros países e que os estrangeiros venham cá, tudo bem. Isso já aconteceu com as idas ao Dubai e ao Japão, onde há menor qualidade na arbitragem. Se for só de forma unilateral, não acredito. Acabaria por descredibilizar a arbitragem portuguesa.
Seria uma forma de passar um atestado de incompetência aos juízes lusos?
Sim, claro, exatamente.