"Acreditamos que esse acordo irá, no final deste ano, agravar as condições de fornecimento de prestação de serviços das entidades patronais, das empresas de camionagem, para as empresas de combustíveis. E isso obviamente acabará por ter repercussões nos preços. Essa é a preocupação que obviamente existe do lado das gasolineiras", disse Pedro Morais Leitão em entrevista à agência Lusa.
Referindo desconhecer "em detalhe os pormenores" do acordo entre o Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas e os patrões, na sequência da greve que em abril levou a que a maioria dos postos de abastecimento ficasse sem combustível, Pedro Morais Leitão considera que "foi conseguida uma boa solução".
"Pareceu-nos haver grande apoio da opinião pública em relação à causa do sindicato e dos motoristas. Todos concordaram que a função que os motoristas desempenhavam exige uma remuneração mais alta do que a que era anunciada. Mas a verdade é que todas essas pequenas contribuições pesam no custo de levar o gasóleo e a gasolina até aos depósitos dos nossos carros", alertou o gestor.
Pedro Morais Leitão realçou que "cada uma das pequenas contribuições em si são pequenas", "mas quando se somam todas ninguém gosta que os combustíveis estejam ao preço que está".
"Quando discutimos os aumentos da incorporação de biocombustíveis, quando discutimos o aumento dos motoristas. Quando tomamos a decisão parece pequeno, mas depois [...]", acrescentou.
O presidente da Prio considerou que o protesto dos motoristas de matérias perigosas mostrou "a dependência do país" do sistema de abastecimento rodoviário, defendendo que deve existir "um sistema de redundância para que essa dependência tão grande deixe de existir".
Neste contexto, Pedro Morais Leitão elogia o anúncio da intenção do Governo de abastecer o aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, por oleoduto, um projeto que deverá ser realizado por privados e estar concluído em meados em 2021, segundo anunciou o ministro do Ambiente e da Transição Energética, Pedro Matos Fernandes, no parlamento.
Também a reorganização da regulação do setor energético, com a imposição do pagamento de uma contribuição pelas empresas, levará a um aumento dos custos, mas o gestor diz-se favorável a essa nova parcela nas contas da Prio uma vez que "vê mais competência no regulador", a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE).
"A reorganização da regulação tem dado bons resultados. Em primeiro lugar, porque do ponto de vista estratégico, parece-me acertado juntar a regulação e a fiscalização da eletricidade à regulação e a fiscalização dos combustíveis. Eram dois mundos totalmente separados. E agora estamos a juntá-los", defendeu.
Admite que se criou "alguma complexidade adicional", uma vez que as empresas do setor passam a ter que se articular com quatro organismos: "a ERSE que regula, a ENSE que fiscaliza, a DGEG que tem a componente administrativa e o LNEG com funções técnicas muito específicas".
"Essa primeira fase está a ser ultrapassada. Vamos começar agora a ganhar os benefícios dessa especialização. Estou favorável a esse aumento de custos, porque vejo mais competência no regulador", declarou.