A Caixa Geral de Depósitos (CGD) vai deixar de pagar juros abaixo de um euro, ao mesmo tempo que cortou as taxas de muitos depósitos. Quer isto dizer que quem tiver menos de 7.000 euros num depósito a prazo deixa de receber qualquer retorno.
A Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO) considera que esta decisão vem desincentivar à poupança e estranha que tenha sido tomada pelo banco público. Os dados mais recentes, sublinhe-se, apontam para que a taxa de poupança das famílias tenha descido "marginalmente" para 4,5%.
"Obviamente que não gostamos desta medida porque é um banco público e a mensagem que está a passar é de desincentivo à poupança", referiu o economista da DECO António Ribeiro, em declarações ao Notícias ao Minuto. "A maior parte das famílias não têm um fundo de emergência", acrescentou.
A par desta consideração, o economista aponta ainda que este é um mau exemplo, que pode levar a que outras instituições bancárias sigam o mesmo caminho: "Isto é um abrir a porta a que outros [bancos] façam o mesmo", apontou.
Por outro lado, o economista do IMF - Informação de Mercados Financeiros Filipe Garcia salienta que o "impacto [desta medida] é assimétrico: beneficia mais a Caixa do que prejudica os clientes", justificando que "deixar de pagar a 30 mil clientes um euro, aos clientes não faz grande diferença, mas para a CGD são logo 30 mil euros", adiantou.
Vamos continuar a ter taxas muito baixas durante muito tempo, é mesmo esta a expressão que eles usam [os bancos centrais]Na opinião de Filipe Garcia tem muito mais impacto no dia-a-dia dos clientes dos bancos o aumento das comissões, do que propriamente o corte dos juros: "É mais importante do que o corte de uma taxa de juro que já era de quase 0%", apontou.
Isto porque a decisão da CGD tem impacto nos depósitos em comercialização (Caixapoupança, Caixapoupança Reformado, Emigrante, Superior), em que os juros semestrais passam de 0,05% para 0,015%, de acordo com a notícia que, saliente-se, foi avançada pelo Expresso.
E as perspetivas não são otimistas. Filipe Garcia estima que as taxas de juro vão continuar em níveis baixos. "Numa perspetiva global, nada se vai alterar. Vamos continuar a ter taxas muito baixas durante muito tempo, é mesmo esta a expressão que eles usam [os bancos centrais]", explicou.
"racionalidade financeira mandaria aplicar na mesma (...) mas as pessoas não estão para se chatear com isso"Por este motivo, acredita o economista do IMF, é que os dados do Banco de Portugal (BdP) têm vindo a mostrar um aumento dos montantes nas contas à ordem. "As pessoas já não se dão ao trabalho de aplicar o que têm à ordem. Olham para aquilo e não compensa. Preferem ter o dinheiro à ordem ou para gastar ou para outro investimento ou aplicação qualquer", explicou.
Apesar de tudo, a "racionalidade financeira mandaria aplicar na mesma (...) mas as pessoas não estão para se chatear com isso", precisamente porque a rentabilidade é baixa. Por isso, diz que as pessoas procuram alternativas: "as que têm mais dinheiro no imobiliário, as que têm menos em obrigações como as que têm sido colocadas nas últimas semanas ou produtos do Estado", apontou.
De acordo com os dados mais recentes divulgados pelo Banco Central Europeu, em maio, os portugueses tinham um total de 142.824 milhões de euros em depósitos bancários, 48.650 milhões de euros dos quais em contas à ordem, um valor recorde.