"Terei o meu estilo. Não antecipem, nem façam comparações. Vou ser eu própria, por isso, provavelmente diferente", afirmou Lagarde em dezembro na conferência de imprensa após a sua primeira reunião de política monetária na presidência do banco central, onde sucedeu a Mario Draghi em novembro.
Na mesma ocasião, Lagarde, a primeira mulher a assumir a liderança do BCE, recusou ser definida como partidária da ortodoxia monetária ou defensora do apoio ao crescimento.
"De uma vez por todas, não sou nem uma pomba (termo associado aos defensores da flexibilidade para apoio ao crescimento), nem um falcão" (designação usada para os apoiantes da ortodoxia), declarou.
"A minha ambição é ser uma coruja, que muitas vezes é associada à sabedoria", acrescentou.
Num início de mandato em que não teve de se preocupar no imediato com decisões de política monetária, depois de o seu antecessor ter anunciado o relançamento do programa de compra de dívida a partir de novembro, Lagarde anunciou uma revisão da estratégia do BCE, a primeira desde 2003, após anos de medidas destinadas a combater a crise.
O BCE propõe-se analisar "a eficácia e os potenciais efeitos secundários dos instrumentos de política monetária desenvolvidos ao longo da última década" e examinar "a forma como as análises económica e monetária, com base nas quais avalia os riscos para a estabilidade de preços, devem ser atualizadas".
O objetivo é terminar (o processo de revisão) "antes do fim de 2020" e incluir nesta reflexão "parlamentares", investigadores e a sociedade civil, ou seja, "ouvir" e não apenas "pregar" os pontos de vista do BCE, explicou Lagarde.
Basicamente, trata-se de precisar o objetivo de inflação seguido pela instituição (que agora é uma taxa próxima mas abaixo de 2%) e de integrar na política monetária os desafios colocados pelas alterações climáticas e pela evolução tecnológica.
"Vamos debater" qual será o lugar da luta contra as mudanças climáticas na futura estratégia do BCE, explicou Lagarde.
Nas duas reuniões de política monetária que decorreram sob a liderança de Lagarde, o BCE optou por deixar as taxas de juro inalteradas, em mínimos históricos, mantendo também o programa de compra de ativos no valor de 20.000 milhões de euros por mês para apoiar a economia e estimular a inflação.
Na reunião que decorreu no final de janeiro, o banco central mostrou-se ligeiramente mais otimista sobre as perspetivas económicas na zona euro, considerando que os riscos para a conjuntura são menos acentuados após o acordo comercial entre China e Estados Unidos.
Os riscos "ligados a fatores geopolíticos, ao protecionismo crescente e às fragilidades dos mercados emergentes" são "menos acentuados" agora que a "incerteza em torno do comércio internacional diminuiu", afirmou a presidente do BCE.
Mas, poucos dias depois, o tom parece ter mudado e Lagarde advertiu que a propagação do coronavírus chinês representa "uma nova dose de incerteza" para o crescimento económico.
"A economia da zona euro continua, por isso, a necessitar de apoio da nossa política monetária, que providencia um escudo contra os ventos adversos globais", disse a antiga diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) na comissão de Assuntos Económicos e Financeiros do Parlamento Europeu.