"A eliminação da necessidade de vistos entre Angola e a África do Sul vai significar mais concorrência na procura de empregos mais qualificados e potencialmente uma descida do custo dos candidatos sul-africanos", escreve a unidade de análise económica da revista britânica The Economist.
"Isto também pode implicar um aumento nas tensões, já que o desemprego já está pelo menos nos 25%", acrescentam os analistas num comentário à abolição de vistos entre os dois países, anunciada em novembro.
Na nota, enviada aos clientes e a que a Lusa teve acesso, a EIU lembra que o processo de obtenção de visto para Angola é sempre "demorado e complicado e funciona como uma barreira ao investimento, complicando as contratações e o movimento de pessoas para as empresas com operações em Angola".
Sendo a África do Sul o maior parceiro comercial de Angola em África, e um dos dez maiores a nível mundial, as implicações são "potencialmente significativas".
O efeito no comércio "deverá ser positivo, ajudando a aumentar a concorrência e fazendo descer os preços que têm estado artificialmente elevados devido aos monopólios de que beneficiam as cadeias de fornecimento e distribuição", apontam os analistas da Economist, notando que isto também ajudará a uma maior integração de Angola na zona de comércio livre da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, que ainda está por implementar.
No entanto, alertam, há também aspetos arriscados para as autoridades angolanas: "Acabar com a obrigatoriedade de vistos vai significar uma intensificação do escrutínio de jornalistas e académicos, que dantes tinham muita dificuldade em entrar no país", exemplificam os analistas.
A edição de 2019 do Índice de Abertura de Vistos para África, divulgado em novembro pelo Banco Africano de Desenvolvimento e pela União Africana, mostra que Angola subiu 15 posições no índice desde 2016, para a 34ª posição, em consequência da introdução do visa eletrónico e da decisão do Governo de Luanda em 2018 de permitir que 61 países recebessem vistos à chegada, incluindo 13 países africanos.
O progresso na abertura de vistos em África segue-se a um "impulso crescente para uma maior integração entre países e a sinais de que os decisores políticos em todo o continente estão a promover reformas", tornando mais fácil as deslocações dentro do continente aos empresários, investidores, estudantes e turistas, revela o texto, divulgado à margem do Fórum de Investimento em África, em novembro na África do Sul.
O Índice de Abertura de Vistos, este ano na sua quarta edição, mostra que 47 países melhoraram ou mantiveram as suas pontuações de abertura de vistos, sendo que Seicheles e Benim continuam a ser os dois principais países em termos de abertura de vistos em África, com uma política de isenção de vistos para todos os visitantes africanos. A Etiópia subiu um recorde de 32 lugares no Índice e entrou no top 20 dos países com maior abertura de vistos em África.
"Estão a ser feitos progressos, mas ainda há muito a fazer [em matéria de livre circulação de pessoas]. Para integrar África, devemos derrubar os muros. A livre circulação de pessoas, e especialmente a mobilidade laboral, são cruciais para promover os investimentos", afirmou o presidente do BAD, Akinwumi Adesina, citado num comunicado da instituição.
Os visitantes africanos não precisam de visto para viajar para um quarto de outros países africanos, isenção que apenas cobria um quinto do continente em 2016. Atualmente, 21 países africanos oferecem também vistos eletrónicos, número que compara com 16 em 2018, 13 em 2017 e nove em 2016.