Bloquear o uso do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MES) "porque nos apegamos teimosa, ideológica e religiosamente à adoção de severos condicionalismos é irresponsável", disse Juncker numa entrevista ao jornal francês Liberation.
Na manhã de quarta-feira, depois de 16 horas de debates, Haia foi unanimemente apontada pela sua inflexibilidade, por dificultar qualquer perspetiva de acordo sobre uma ativação incondicional deste fundo europeu MES, criado em 2012 para os Estados em dificuldade.
Para Juncker, a inflexibilidade da Holanda ainda é mais incompreensível, já que "o MES não será suficiente para relançar" as economias europeias.
Para relançar as economias europeias, o ex-presidente da Comissão defende a criação de uma capacidade de endividamento europeia, em torno da emissão dos "coronabonds".
"Em dezembro de 2010, como presidente do Eurogrupo, propus a criação de 'eurobonds' para que todos os membros da zona euro beneficiassem da mesma taxa de juro. Mas precisamos de fazer a diferença com os 'coronabonds': não se trata de mutualizar as dívidas nacionais do passado, uma ideia contra a qual se levantou metade da Europa, mas de mutualizar a dívida que surgirá da criação de meios orçamentais necessários para responder à crise do coronavírus ", disse Juncker.
"Trata-se de organizar solidariamente esse financiamento da crise atual, combinando os diferentes instrumentos: Banco Europeu de Investimento, MES, orçamento europeu e finalmente os 'coronabonds'", acrescentou.
Depois de o seu antecessor Jacques Delors, que viu em 28 de março um "perigo mortal" para a União Europeia, se não estiver mais unida diante da crise, Juncker aponta "um risco de que os países do sul se afastem do projeto europeu, se a União não souber reagir com a onda de solidariedade que deveria".
"O discurso da Holanda consiste em dizer que não têm que pagar as dívidas dos outros: mas não se trata de pagar as dívidas dos outros do passado, mas de organizar o financiamento futuro dos custos da crise", acrescentou Juncker.
Por outro lado, Juncker considera "curiosas, erradas e escandalosas" as palavras do ministro das Finanças holandês Wopke Hoekstra "que pediu uma auditoria das políticas orçamentais dos países do sul".