"Não é evidente que uma empresa prefira diretamente despedir e depois eventualmente pensar em recuperar do zero passados uns meses", disse a professora universitária em entrevista à Agência Lusa, acrescentando que não lhe parece melhor, do ponto de vista das empresas, despedir os funcionários.
Ao contrário do despedimento, que classifica de um botão "on/off" (ligar e desligar), o 'lay-off' (suspensão temporária do contrato de trabalho) é um "botão de volume", que permite às empresas ajustarem as suas necessidades laborais ao contexto da pandemia de covid-19.
"O 'lay-off', ao dar às empresas essa flexibilidade, permite-lhes a gestão da crise e ter as pessoas a trabalhar a 30%, a 70% ou a 99%", algo que a académica da Nova SBE (Universidade Nova de Lisboa) considera positivo.
Segundo Susana Peralta, as empresas "não vão de repente ao mercado de trabalho e encontram, de um dia para o outro, trabalhadoras e trabalhadores com o mesmo grau de conhecimento dos processos internos das empresas, com o mesmo grau de conhecimento daquilo que é preciso fazer ou organizar equipas".
"Tudo isso é extremamente custoso para uma empresa", referiu, reconhecendo, no entanto, que "é evidente que o 'lay-off' tem custos para as empresas", e que se "fecharem e despedirem têm a vantagem de não ter de gastar liquidez todos os meses para pagar a parte das folhas de salários que lhe compete".
É um compromisso que "cada empresa estará em melhores condições de avaliar", mas Susana Peralta aponta que "há evidência científica, investigação que mostra que os apoios à quebra da atividade económica, em tempos 'não-covid', têm efeitos muito positivos", pela não destruição do que a empresa tinha anteriormente construído.
Nas consequências para as empresas portuguesas da pandemia de covid-19, Susana Peralta considerou que o recurso ao crédito também podem ser "impostos futuros", caso elas não consigam pagá-lo, dadas as garantias do Estado a esses empréstimos.
"Para mim não é nada claro que esta solução baseada em empréstimos represente menos impostos futuros do que uma solução baseada em montantes a fundo perdido, que permitissem que as empresas fossem mais facilmente viáveis no futuro, e que viriam a pagar impostos", opinou.
No entanto, considerou "evidente que caso o empréstimo seja pago, isso é o mais seguro de tudo".
Susana Peralta referiu ainda que "os setores de serviços de proximidade, muito dedicados aos consumidores portugueses, vão ter uma retoma mais fácil" da crise associada à pandemia.
No entanto, "todos aqueles que estão ligados ao turismo não vão retomar tão cedo", porque, "mesmo no dia em que houver movimentos internacionais, mesmo que sejam legais, as pessoas não devem estar viradas para andar a fazer grandes passeios em países estrangeiros".