"A nível europeu, a indústria da Aeronáutica, Espaço e Defesa constitui uma das principais indústrias de alta tecnologia no mercado global, apoiando mais de 865.000 postos de trabalho diretos altamente qualificados. Neste sentido, tem um papel fulcral na economia global, catalisando o desenvolvimento tecnológico e a inovação em todo o tecido social e económico", explica o presidente do Conselho de Administração da AED Cluster Portugal, José Neves, citado em comunicado.
O surto de covid-19 afetou "todos os setores da AED, tendo sido a indústria aeronáutica civil a mais atingida, originando cortes nas encomendas, problemas de abastecimento, paragens na produção e problemas de tesouraria", refere.
Relativamente às indústrias da defesa e espaço, estas são maioritariamente direcionadas para o setor público, pelo que ainda não enfrentam os mesmos impactos da indústria aeronáutica, no entanto, o impacto indireto não tardará a fazer-se sentir.
Por estas razões, a AEDCP decidiu agir e avaliar o que pode ser feito para diminuir as implicações desta nova crise, afirma o responsável.
Neste sentido, a AED defende, no documento, uma estratégia nacional consolidada de mitigação ao impacto económico desta crise e reforço dos três setores em questão, propondo um conjunto de medidas transectoriais e específicas a cada setor.
Em termos setoriais, o 'cluster' defende a aprovação de um pacote específico de formação e qualificação 'online' dos profissionais do setor, tendo como objetivo a manutenção das qualificações e certificações existentes, assim como o aproveitamento da redução de atividade para aumento e diversificação de competências.
Sugere ainda a definição de medidas de apoio ao trabalho a tempo parcial no setor (como por exemplo, a criação de bancos de horas) para evitar a exclusão dos atuais profissionais do setor e a promoção de medidas para os projetos de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico, incluindo as vertentes da Inovação Produtiva e Organizacional, focadas no contexto atual, para capacitar os setores aos novos desafios, e alavancar as novas oportunidades.
"São necessárias revisões dos planos estratégicos setoriais e a redefinição das temáticas dos desafios societais, como a transformação digital e o impacto na sociedade civil", sinaliza.
Para o setor da aeronáutica, propõe-se a criação de um plano de ação, detalhado e integrado no trabalho de diplomacia económica entre o Governo e o 'cluster' que dê resposta às oportunidades geradas pelas alterações às cadeias de fornecimento internacionais, nomeadamente através da realocação das operações e fornecimentos da Ásia, Norte de África e América de volta à Europa e restruturação dos modelos de custo e volume de produção em função da nova realidade da aviação civil.
No setor espacial, a AEDCP fala na necessidade de garantir a integridade do financiamento nacional dos programas obrigatórios e opcionais da Agência Espacial Europeia, comprometidos na última reunião do Conselho Ministerial de 2019 e da continuação e dinamização das iniciativas complementares previstas na Estratégia Espaço 2030, tais como a construção do SpacePort dos Açores.
Refere-se ainda à necessidade de acelerar processos de aquisição pública de serviços, e projetos de introdução de tecnologia espacial na administração pública, através do lançamento de concursos públicos, em particular, integrados nos esforços dos restantes.
No setor da Defesa, a AEDCP quer que sejam assegurados os investimentos definidos na Lei da Programação Militar, garantindo, sempre que possível, a participação de empresas portuguesas ao longo de todo o ciclo de desenvolvimentos de novos sistemas e equipamento.
Pede ainda "empenho institucional e diplomático na manutenção do orçamento e data de lançamento do Fundo Europeu de Defesa (FED), assim como assegurar a participação nacional futura nos grandes projetos europeus de remodelação das forças, promovendo emprego e competitividade das empresas".
O 'cluster' foi criado em 2016, como uma associação privada sem fins lucrativos e envolve atualmente mais de 80 entidades estabelecidas em Portugal.
De acordo com os dados citados pela AEDCP, em Portugal, as três indústrias representam um volume de faturação agregado superior a 1,7 mil milhões de euros, com valores de exportação de cerca de 90%, suportando mais de 18.500 recursos humanos.
Com o impacto da covid-19, prevê-se de uma diminuição de 55% das receitas de passageiros das transportadoras em 2020 relativamente a 2019 e uma diminuição de 48% do tráfego anual de 2020.
A International Air Transport Association (IATA) previu a 14 de abril que o setor de aviação perderá este ano 314 mil milhões de dólares em receitas de passageiros em consequência do surto do novo coronavírus.
Esta previsão equivale a uma diminuição de 55% das receitas de passageiros das transportadoras em 2020, relativamente a 2019, refere a AEDCP.
O documento da AEDCP foi também entregue ao IAPMEI, AICEP e outras entidades públicas.