Na estrada que atravessa Eiriz, no concelho de Baião, a sombra de uma quebra abrupta de faturação ficou, contudo, à porta da propriedade de Eduarda dos Moinhos. A empresária que estudou direito reabriu portas a 25 de maio, a pedido de uma cliente grávida. O cronograma mostra um verão com lotação praticamente cheia, em tudo idêntico ao de outros anos.
"Nesta pandemia fiquei com muito mais procura. Houve até quem quisesse comprar os moinhos para morar cá ou alugar ao mês", afirmou.
Na pandemia, ou fora dela, os Moinhos de Ovil são procurados "99,9%" das vezes por turistas nacionais. Este ano, não foi diferente. Na propriedade de Eduarda há duas casas, mas a reserva da casa principal, a Casa dos Moinhos, confere direito exclusivo ao usufruto de toda a propriedade, característica bastante para que, em contexto de pandemia, este projeto turístico tenha contornado as grandes perdas no turismo.
"A verdade é que, quando isto começou a melhorar, as reservas dispararam. No meu caso, tornou-se um bocadinho complicado. Eu já tinha a minha agenda muitíssimo confortável. O que aconteceu foi que os clientes de março, abril e maio limitaram-se a arrastar as reservas para a frente, os de junho, julho e agosto mantiveram as reservas, portanto, os outros acabaram por preencher os buraquinhos", explicou.
Excluindo o reforço das medidas de higienização, nos Moinhos de Ovil a experiência de confinamento do mundo é igual à de sempre. Ouve-se a água que corre por debaixo dos pés, respira-se o silêncio, não há internet ou televisão, mas apenas os panados da Sónia que "são os melhores do mundo", salpicão, vinho caseiro e um moinho-abrigo.
"A minha bandeira são três chavões: localização -- esta casa fica em cima da água do Rio Ovil; personalização -- tento personalizar a experiência ao máximo para cada cliente; e privacidade -- as pessoas têm toda a quinta por conta delas", explica Eduarda.
De Eiriz a Telões vão pouco mais de 40 quilómetros. Numa propriedade que se divide por dois concelhos -- Amarante e Felgueiras -- o vinho é a estrela da casa, a hotelaria a nova paixão e, por entre os 30 hectares de vinha em produção, nasceu, em 2015, o Monverde - Wine Experience Hotel.
Pouco antes da crise pandémica, este hotel vínico na Região dos Vinhos Verdes alargou a sua oferta: aos 30 quartos existentes, acrescentou 16 novas acomodações, incluindo 10 suítes, com vista para vinha, enoteca, terraço e piscina privativa.
Não fosse o novo coronavírus e o verão tinha já lotação garantida. Nos meses de março e abril, todas as reservas foram, contudo, canceladas e o hotel obrigado a recorrer ao 'lay-off'. Para garantir o distanciamento social e higienização do espaço, também a capacidade do hotel foi reduzida para 65%.
"O que está a acontecer é uma retoma progressiva. No mês de junho diria [que as reservas são] 98% do mercado português (...) e estamos já a assistir a um conjunto de reservas para meados de julho, agosto e setembro dos mercados de proximidade: Espanha, França, Bélgica", referiu Miguel Ribeiro, diretor-geral do Monverde.
Aquele responsável ressalvou que a retoma não será suficiente para fazer face aos prejuízos decorrentes da pandemia, admitindo que se o resultado for "zero" no final do ano, ou seja, permitir cobrir as despesas, será "um bom ano".
"No final de março, todas a reservas que existiam para aquele mês e para os meses seguintes pura e simplesmente desapareceram. Em março, estávamos com uma taxa de ocupação prevista para junho de 80% já garantida, o ano estava feito (...) e tudo isto desapareceu", revelou.
Na Foz do Sousa, em sete hectares de terreno que distam pouco mais de 20 quilómetros do Porto, o ecoturismo da Tapada de São Domingos mostra que é possível recuperar as perdas, ainda por contabilizar, com o cancelamento das reservas.
Sebastião Magalhães, que há 10 anos decidiu transformar a propriedade da família numa 'villa' privativa, diz que o negócio, quase 100% direcionado para o mercado internacional, conquistou, em tempo de pandemia, os portugueses.
"Este ano tivemos de abrir ao mercado nacional. Temos tido bastante sucesso, o que para nós foi uma surpresa, porque temos um preço um pouco mais alto, o que leva a que os clientes nacionais não se sintam muito atraídos", adiantou, salientando que o mês de junho "foi muito bom", tendo coincidido com o cancelamento das reservas dos turistas estrangeiros.
As reservas, diz Sebastião, começam agora a voltar e já preenchem agenda, tanto que já há quem tenha reservado uma semana para 2021.
"Para o verão não sentimos tanta pressão dos nacionais, mas sentimos que os estrangeiros estão a regressar. Temos praticamente o verão todo vendido a clientes estrangeiros de países como França, Dinamarca, Alemanha e Holanda. Parece que estamos a regressar à normalidade", comentou.
A pandemia de covid-19, transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro na China, já provocou mais de 454 mil mortos, incluindo 1.527 em Portugal.