"Não sabemos nada, não sabemos se o Governo está a estudar, se o Governo está a ponderar alguma coisa, não sabemos rigorosamente nada", afirmou José Gouveia, porta-voz do movimento "O Silêncio da Noite" e presidente da Associação de Discotecas de Lisboa, indicando que, neste momento, está a ser reativada a Associação Nacional de Discotecas, para unir todos os empresários ligados ao setor nesta luta.
Em declarações à agência Lusa, o porta-voz dos empresários de diversão noturna disse que existem já empresas em início de processos de insolvência, inclusive de grandes grupos nacionais, adiantando que "são bastantes", sem avançar com números concretos.
"Neste momento, é incalculável, porque todos os dias um empresário deverá tomar uma decisão em relação à sua vida em função deste silêncio", explicou José Gouveia, considerando que "é uma situação deveras preocupante".
Na perspetiva dos empresários de diversão noturna, o silêncio do Governo tem sido o "grande inimigo" quanto ao futuro de estabelecimentos como bares e discotecas, inclusive porque "existe efetivamente a esperança de que este silêncio termine amanhã".
A falta de informação sobre a reabertura deste setor "acaba por, de certa forma, congelar ou paralisar os empresários nas suas ações, por esta esperança de que o Governo se prepara para um 'volte-face' a qualquer momento", indicou José Gouveia, referindo que a expectativa é de que possa haver novidades na próxima reunião do Conselho de Ministros, prevista para quinta-feira.
A Lusa questionou o Ministério da Economia sobre a reabertura de espaços de diversão noturna, inclusive se há uma data prevista, ao que a tutela disse apenas que "em momento oportuno" serão divulgadas novas informações.
"Esquecidos" desde o início da pandemia em Portugal, os empresários de diversão noturna sentem-se hoje "ignorados, é como se não existissem, porque fala-se em tudo, menos na noite", apontou o porta-voz do movimento "O Silêncio da Noite", lembrando que o setor está encerrado "há quatro meses", mas já foram assumidas despesas de cinco meses, designadamente março, abril, maio, junho e julho.
De acordo com José Gouveia, o mês de "agosto seria a esperança para muitos empresários de abrir ainda este verão", mas falta a decisão do Governo.
Em representação a nível nacional do setor de diversão noturna, a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) apresentou à Direção-Geral da Saúde (DGS) e ao Governo um guia de boas práticas para a reabertura de estabelecimentos como bares e discotecas, à semelhança do que foi feito na restauração, mas "não terá sido levado em conta", já que "não houve desenvolvimentos nessa matéria".
Mesmo que o Governo possa ter uma posição contra a abertura de espaços como bares e discotecas, o que é compreensível pelos empresários devido à pandemia, "é preciso decidir apoios" para o setor, avançou o porta-voz do movimento "O Silêncio da Noite", argumentando que os prejuízos pelo encerramento dos estabelecimentos por questões de saúde pública têm de ser assumidos pelo Estado, inclusive com os apoios financeiros que existem para a economia nacional, através da comunidade europeia.
"Se não forem apoiadas [as empresas], quando isto tudo passar, puro e simplesmente vamos ter uma inexistência do setor de animação noturna", avisou José Gouveia, reforçando que "é insuportável" para uma empresa quase meio ano de encerramento, principalmente na altura do verão, que é um período importante em termos de receitas.
Apesar da situação preocupante, os empresários vão continuar a aguardar, "com todo o respeito e com toda a calma", por uma decisão do Governo quanto à reabertura dos estabelecimentos, esperando que se tenha em consideração o "contributo importantíssimo" que este setor tem para a economia nacional, nomeadamente através do turismo.
As empresas do setor de diversão noturna, encerradas desde março, ficaram de fora do plano de desconfinamento no âmbito da pandemia da covid-19, tendo o primeiro-ministro justificado esta decisão com a impossibilidade de afastamento físico nas discotecas.
Portugal contabiliza pelo menos 1.697 mortos associados à covid-19 em 48.898 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).
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