"Dos muitos hotéis que a cidade do Porto tem, neste momento, acredito que 10% ainda permaneçam encerrados e os restantes [estão] a trabalhar com taxas de ocupação muito, muito baixas, entre 20% a 30%", declarou hoje o presidente da Associação Portuguesa de Hotelaria Restauração e Turismo (APHORT), Rodrigo Pinto Barros.
Em entrevista telefónica à agência Lusa, a propósito da crise no setor da hotelaria relacionado com a pandemia de covid-19, o presidente da APHORT explicou que a quebra nas dormidas dos hotéis da cidade do Porto se deve, principalmente, à "falta do turismo internacional" e "há falta de grupos, que estão a cancelar quase diariamente as suas deslocações a Portugal".
A Lusa confirmou a manutenção do encerramento no Hotel Inca, uma unidade hoteleira na zona de Cedofeita, que recebeu obras de reabilitação entre junho e dezembro de 2019 e que após o investimento viu-se obrigado a encerrar os 62 quartos desde o estado de emergência - em março -, mantendo apenas um funcionário a trabalhar para garantir a manutenção da maquinaria.
"Estamos fechados desde março e não tenho informações de quando poderemos reabrir", lamentou o funcionário da manutenção do Hotel Inca.
No Hotel Teatro, nas proximidades da estação de comboios de São Bento, a história repete-se.
A unidade hoteleira com 74 quartos está encerrada desde março e, de momento, a administração não quer avançar com datas de reabertura, adiantou à Lusa Lito Fernandes, do Departamento de Vendas daquele grupo hoteleiro.
Segundo Lito Fernandes, o Porto vive muito do turismo de 'city break', em que as reservas são feitas a uma semana de decidirem viajar, e, dessa forma, é difícil ter perspetivas da retoma efetiva.
"As reservas dos hotéis de cidade são muito de 'last minute' (último minuto)" e, a acrescentar a isso, por causa da covid-19 as pessoas aguardam até à última hora para saber se podem viajar de avião", explica, reconhecendo que há um "estigma" instalado para com as pessoas que viajam de avião em tempo de pandemia.
Apesar de muitas unidades hoteleiras permanecerem fechadas, a grande maioria dos hotéis da cidade do Porto reabriu. A abertura trouxe, contudo, uma ocupação dos quartos "muito baixa" e uma "perspetiva de negócio muito fraca, porque o 'corporate' (grupos de turistas) desapareceu, o que nesta altura é normal" e porque o "turismo de cidade desapareceu", tornando o negócio "muito incipiente", classificou o presidente da APHORT.
No Hotel Porto Bay Flores, um cinco estrelas localizado na Rua das Flores do mesmo grupo do Hotel Teatro, a taxa de ocupação média ronda os 55%, mas a perspetiva para valores mais positivos não existe, devido ao Porto ser o tal destino de 'city break', acrescenta Lito Fernandes.
No Mercure Hotel, na Praça da Batalha, que reabriu a atividade a 21 de julho, dos 147 quartos disponíveis apenas "20 estão ocupados" ao dia de hoje, principalmente com estrangeiros espanhóis e alguns com turistas nacionais, relata uma das funcionárias da receção daquela unidade hoteleira.
No NH Collection Porto Batalha, e segundo Vasco Cunha, diretor de Vendas, a taxa de ocupação ronda os 40% para o mês de agosto.
"Não fazemos futurologia tendo em conta a conjuntura atual [de covid-19]", declarou, afirmando, todavia, que vão apostar no período do Natal "com promoções" e "pacotes especiais à semelhança de anos anteriores" e que vão continuar a apostar em "promoções de verão e ações de marketing para o mercado ibérico".
Já no início deste mês, o presidente da Turismo do Porto e Norte de Portugal, Luís Pedro Martins, havia declarado que a pandemia de covid-19 havia invertido os números da procura turística na região Norte, com o interior a atrair este verão 80% dos turistas, com o turismo rural a ser o motor da nova dinâmica, e a cidade do Porto a registar 30% de taxa de ocupação.
Segundo dados de hoje do Instituto Nacional de Estatística (INE), o turismo interno permitiu uma queda da atividade turística "menos intensa" em junho face a maio, tendo os hóspedes diminuído 82,0% em termos homólogos e as dormidas recuado 85,2%.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 754 mil mortos e infetou quase 21 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.