Procura caiu, mas preços aguentam-se. Imobiliário não está em "saldos"
Há alguns fatores que explicam a estabilidade dos preços no mercado de compra e venda, um dos quais está relacionado pela 'composição' do investimento que foi feito. Como serão os próximos meses?
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Economia Imobiliário
A expectativa era a de que os preços do imobiliário iriam cair em resultado da pandemia, mas esse ajustamento dos preços não tem vindo a verificar-se. Houve, de facto, uma redução da procura, mas o mercado não está em "saldos". Existem oportunidades e o sentimento deverá ser conduzido pelas notícias sobre a Covid-19 ao longo dos próximos meses.
"O mercado vinha de uma grande valorização e agora era de esperar que houvesse uma queda conforme aconteceu em 2008/2009, mas isso não se tem vindo a verificar. Sempre que apuramos um índice mensal estamos a ver se há uma variação visível ou relevante em termos de ajustamento de preços. Isso não tem vindo a acontecer", disse o diretor da Confidencial Imobiliário, Ricardo Guimarães, em entrevista ao Notícias ao Minuto.
Há alguns fatores que explicam a estabilidade dos preços no mercado de compra e venda de imóveis, um dos quais está relacionado pela 'composição' do investimento que foi feito.
"Há vários aspetos que ajudam a que eles [proprietários] não tenham uma pressão imediata para fazer esse ajustamento. Uma, que vem de trás, é o facto de muito deste investimento ter uma maior componente de capitais próprios e, portanto, há mais capacidade para aguentar embates que não sejam eternos, que sejam temporários. No passado, na crise de 2008, havia uma maior exposição ao nível de dívida e mal houve o impacto da crise deixou de haver fonte de financiamento e liquidez. O colapso foi quase imediato", considera Ricardo Guimarães.
Agora, o cenário é outro, motivo pelo qual os "proprietários ficaram na expectativa" e a previsão é que o sentimento do mercado ao longo dos próximos meses seja conduzido pelas notícias em torno da pandemia - sejam elas positivas ou negativas.
"O facto de haver o lay-off, por um lado, e as moratórias, por outro, também foram mecanismos para comprar tempo. Não só os proprietários estavam mais estruturados, como houve do lado da procura mecanismos de retenção do rendimento", refere o diretor da Confidencial Imobiliário.
Ainda do lado dos compradores, houve de facto uma redução da procura, principalmente nos meses em que vigorou o Estado de Emergência, o que se refletiu numa quebra do volume de transações em mais de 50%. Desde maio já se assiste, por outro lado, a uma tendência de recuperação.
Há com certeza oportunidades, o que não quer dizer que todo o mercado está em saldos, porque não está
O que vai acontecer aos preços nos próximos meses?
É provável que no curto prazo o mercado ainda esteja a ser pressionado pela pandemia, mas as previsões de Ricardo Guimarães apontam para uma recuperação assim que haja notícias positivas sobre vacinas contra a Covid-19 e acredita nesse cenário até ao final do próximo ano.
"Se olharmos para uma perspetiva de três a seis meses, acho que ainda vamos estar muito condicionados pelo confinamento que a pandemia provoca, não só físico mas também de expectativas e de disponibilidade para investimento. Se olharmos numa janela até ao final do próximo ano já começamos a ter um pensamento diferente. Nessa medida, podemos pensar que o mercado terá condições para recuperar não totalmente de forma rápida, mas gradualmente", afirmou.
Há sempre alguém que está com necessidades de fazer liquidez e tem de assumir preços mais baixosEsta é (ou não) uma boa altura para comprar casa?
A resposta é que é uma boa altura para aproveitar oportunidades e, assim, fazer um bom negócio. Porém, importa sublinhar que o mercado não está em "saldos".
"Eu acho que esta é uma boa altura para comprar [casa], porque estão a ser colocados imóveis em desconto face aquele que era o preço há seis meses. Há sempre alguém que está com necessidades de fazer liquidez e tem de assumir preços mais baixos. Acho que é uma boa altura para comprar, mas não numa lógica de que todas as casas estão em desconto e todas as casas agora vão ser vendidas com um desconto de 30%. Há com certeza oportunidades, o que não quer dizer que todo o mercado está em saldos, porque não está", referiu Ricardo Guimarães.
Os dados mais recentes da Confidencial Imobiliário apontam para uma variação de -0,2% do preço de venda das casas em Portugal Continental em julho.
"O arrendamento é novamente a estrela"
No caso do arrendamento, a história é diferente: "Nesta altura o arrendamento é novamente a estrela, porque é o mercado que ganha quando há uma crise no mercado de compra e venda", indica Ricardo Guimarães.
O que se verifica atualmente é que há mais oferta no mercado de arrendamento e isso também está relacionado com o impacto da pandemia no turismo e, por consequência, no alojamento local.
Num estudo antes da pandemia, Ricardo Guimarães diz que já tinham concluído que era "mais rentável para o propritário arrendar do que fazer alojamento local (...) o alojamento local assegurava um nível de rendimento superior, mas também tinha custos operacionais que tinham de ser tidos em conta".
"Haverá uma parte do alojamento local que migra, de forma definitiva, para o arrendamento ou outro tipo de uso e proprietários que farão contratos de média duração para depois, mal haja estabilidade, voltarem para o turismo", sublinha o diretor da empresa especialista em imobiliário.
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