O Governo da Zâmbia pediu aos credores de uma emissão de 3 mil milhões de dólares (2,5 mil milhões de euros) para adiar o pagamento dos juros, no valor de 120 milhões de dólares (100 milhões de euros), para abril de 2021, argumentando que precisa de "espaço de manobra" para acudir ao aumento da despesa decorrente das medidas de combate ao novo coronavírus.
"O que estamos a tentar fazer não é um 'default' propriamente dito, mas sim uma iniciativa de construção de consenso", argumentou o secretário permanente do Ministério das Finanças, Mukuli Chikuba, em declarações à agência de informação financeira Bloomberg.
Os detentores de títulos de dívida comercial (Eurobonds) aceitaram uma proposta semelhante feita pelo Equador em maio, resultando numa reestruturação de 17,4 mil milhões de dólares (14,8 mil milhões de euros), mas mesmo com o acordo dos credores, a Zâmbia entraria em 'default' aos olhos das agências de notação financeira, tornando praticamente impossível o regresso aos mercados.
Em agosto, a Zâmbia garantiu um congelamento de oito meses nos pagamentos da dívida aos credores oficiais, no âmbito da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI), lançada em abril pelo G20, mas como parte do acordo teria de procurar termos comparáveis por parte dos credores comerciais, explicou o governante da Zâmbia.
A Zâmbia, cuja dívida externa multiplicou-se por sete vezes na última década, disse que a pandemia desencadeou uma crise de liquidez sem precedentes, complicando a capacidade para honrar os seus compromissos financeiros.
A depreciação da moeda deste país, o segundo maior produtor de cobre em África, foi a mais acentuada a nível mundial, tornando o pagamento do total de 11,7 mil milhões de dólares (10 mil milhões de euros) ainda mais cara.
Na próxima semana, o Governo pretende anunciar em detalhe os planos para o alívio da dívida, contando já com o apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a reestruturação agora proposta, e já esta sexta-feira o ministro das Finanças deverá apresentar o Orçamento do Estado para 2021, que poderá dar pistas sobre a estratégia de reestruturação da dívida e as possibilidades de um acordo financeiro com o FMI.
A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 971.677 mortos e mais de 31,6 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em África, há 34.327 mortos confirmados em mais de 1,4 milhões de infetados em 55 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia no continente.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.