"Não vou aceitar que ninguém na Região Autónoma dos Açores continue a dizer que as verbas que vêm da União Europeia só são para a saúde e educação", declarou Jorge Rita à agência Lusa, a propósito das prioridades para o setor na próxima legislatura, tendo em conta as eleições regionais agendadas para 25 de outubro.
O presidente da FAA salientou que os fundos do "próximo quadro comunitário de apoio" e as "verbas adicionais" da União Europeia em resposta à covid-19 têm de ser aplicadas de forma "cirúrgica".
"Ser cirúrgico é apostar bem e apostar bem é apostar naqueles que são os tecidos empresariais da região. Obviamente que a agricultura, todos nós sabemos, estará na primeira linha da frente", afirmou.
Ainda sobre os fundos europeus, Jorge Rita considerou que é preciso apoiar "toda a economia" da região, para evitar um "afundanço total" nos próximos anos.
Segundo disse, nos últimos quatro anos existiu um crescimento "generalizado" na agricultura, que abrangeu as áreas do leite, da carne e das produções frutícolas e hortícolas.
"Toda a produção continuou a crescer, mesmo no caso do leite com muitas imposições e restrições para baixar a própria produção", assinalou.
Em 2019, a indústria de laticínios nos Açores faturou cerca de 307 milhões de euros (aumento de 1,4% face a 2018), tendo sido produzidas 126 mil toneladas de leite (menos 12,7% do que em 2018) e 34 mil toneladas de queijo (mais 9,5% comparativamente a 2018).
Jorge Rita destacou que a pecuária é a "base da agricultura da região", o setor com a "maior importância" na economia dos Açores.
"O setor que ainda está mais bem posicionado na economia da região, na sustentabilidade da economia, na sustentabilidade do emprego, na resiliência, no bem-estar das famílias e das pessoas, este setor é só um neste momento: é o da agricultura", afirmou.
Apesar de considerar que existiram "situações positivas" na atuação do Governo Regional na última legislatura - como o "investimento nos matadouros" --, o representante dos agricultores disse que a região ainda "não deu o salto ao nível da valorização" dos produtos.
Jorge Rita considerou que o "grande problema" do setor está relacionado com o "rendimento dos agricultores", devido às "baixas no preço do leite" e à falta de investimento na "valorização dos produtos".
"Quando somos confrontados com a situação atual em que os rendimentos dos agricultores de uma forma transversal estão em baixa, como toda a gente sabe, não podemos considerar que a atuação do Governo seja totalmente positiva", afirmou.
Sobre a diversificação agrícola, Jorge Rita salientou que as "produções biológicas são para nichos de mercado" e que os agentes políticos "não podem ser demagogos" e "pensar que a região vai produzir tudo o que produzia há 30 ou 40 anos".
Essa produção, disse, já não é possível devido à "falta de mão de obra" e "à qualidade dos solos", salientando que foi a pecuária que permitiu um "grande crescimento" económico à região: "Quando uma equipa é boa, não se muda", disse, referindo-se à aposta na pecuária e no setor leiteiro.
O presidente da FAA disse também "lamentar profundamente" o que diz ser a "falta de reconhecimento aos agricultores", que durante a pandemia da covid-19 "nunca pararam de trabalhar".
"Tem-se visto muito isso nessa campanha [eleitoral]. Vê-se o reconhecimento aos enfermeiros, vê-se o reconhecimento para toda a gente. Não há o devido reconhecimento os agricultores, que todos os dias trabalharam sem qualquer tipo de proteção nem rede por baixo", afirmou.
Nos últimos cinco anos, a fruticultura nos Açores cresceu 15%, segundo disse o secretário da Agricultura e Floresta, João Ponte, na semana passada, na apresentação do Plano Regional de Desenvolvimento da Fruticultura.
O mês passado, João Ponte avançou que 25% dos jovens que entraram no setor agrícola na atual legislatura foram afetos à área da "diversificação" agrícola (floricultura, horticultura, fruticultura, viticultura).
Segundo dados da Pordata, referentes a 2019, uma em cada quatro empresas nos Açores são do setor primário (agricultura, produção animal, caça, florestas e pescas).
As próximas eleições para o parlamento açoriano decorrem no dia 25.
Nas anteriores legislativas açorianas, em 2016, o PS venceu com 46,4% dos votos, o que se traduziu em 30 mandatos no parlamento regional, contra 30,89% do segundo partido mais votado, o PSD, com 19 mandatos, e 7,1% do CDS-PP (quatro mandatos).
O BE, com 3,6%, obteve dois mandatos, a coligação PCP/PEV, com 2,6%, um, e o PPM, com 0,93% dos votos expressos, também um.
Nas eleições regionais existem um círculo por cada uma das nove ilhas mais um círculo regional de compensação que reúne os votos que não foram aproveitados para a eleição de parlamentares nos círculos de ilha.
O PS governa a região há 24 anos, tendo sido antecedido pelo PSD, que liderou o executivo regional entre 1976 e 1996.
Apesar das tentativas da agência Lusa, o Governo dos Açores não teve disponibilidade para fazer um balanço da legislatura no setor agrícola.