Mário Centeno disse, esta quarta-feira em entrevista à RTP, que encontrou no Banco de Portugal (BdP), agora com o cargo de governador, "novas funções" e "a mesma instituição".
"É uma instituição muito importante para a República, tem um papel muito relevante no âmbito do eurosistema. Em Portugal, como supervisor financeiro tem um papel vital para a estabilidade financeira do país". Numa frase: "Foi uma instituição muito fiel aos seus princípios que eu encontrei".
Questionado sobre o impacto deste novo confinamento no país, o antigo 'CR7 das Finanças' do Governo de Costa mostrou alguma confiança, lembrando que todas as previsões económicas de todo o mundo têm sido revistas em alta.
"A economia tem reagido às sucessivas vagas da pandemia de forma bastante positiva, dentro de um contexto difícil", apontou, interpretando essas revisões em alta como o resultado da "capacidade de adaptação que as economias têm tido a laborar nestas dificuldades".
"A análise que fazemos é que em todos os momentos de desconfinamento a reação da economia - no PIB, no emprego, no consumo e no investimento - foi automática e foi muito forte", afirmou.
No entender de Centeno, esta reação automática e forte da economia aconteceu por um "conjunto de motivos".
"Desde logo, as políticas que foram implementadas na Europa, nos EUA, enfim, em todos os países em que a pandemia foi severa. Essas políticas, quer das autoridades monetárias quer das autoridades orçamentais, foram muito eficazes para combater os efeitos imediatos da pandemia", considerou.
Sobre o efeito do novo confinamento na queda do PIB nos três primeiros meses deste ano, Centeno disse haver ainda poucos dados sobre as últimas semanas que, aliás, coincidem com o agravamento das medidas e da própria evolução pandémica.
Apesar de Portugal ter entrado neste mês de janeiro num confinamento geral semelhante ao que vigorou no ano passado em abril e durante parte dos meses de março e maio, o Centeno acredita que o Produto Interno Bruto (PIB) deste primeiro trimestre não vai ter uma queda tão acentuada como a registada no segundo trimestre do ano passado.
"Se compararmos o comportamento da economia em novembro, quando foram implementadas medidas de confinamento, com o que aconteceu em março, e os indicadores preliminares que temos de janeiro, (...) [estes] indicam que não vamos ficar em números dessa grandeza (na ordem dos 16%)".
O governador do Banco de Portugal lembrou, por exemplo, que "quando se fizeram previsões para o quarto trimestre de 2020 em pleno início da segunda vaga (...) essas previsões revelaram-se mais pessimistas do que aquilo que o quarto trimestre acabou por vir a ser".
Ainda que o número não esteja fechado, o ex-governante adiantou que as estimativas apontam para que Portugal tenha tido um 4.º trimestre "muito em linha com aquilo que foi o 3.º trimestre do ponto de vista do crescimento".
O ex-ministro das Finanças reforçou que "houve capacidade de adaptação muito significativa das economias, das empresas, dos trabalhadores à situação difícil em que ainda hoje nos encontramos".
Não querendo antecipar uma nova recessão no país - "ainda é cedo, temos que ver" -, Centeno sublinhou que os números sobre compras e levantamentos em ATM's "têm uma queda muito significativa nos primeiros dias do confinamento, atingiram valores superiores a 20%", ainda que não tenham atingido os valores de queda de abril e maio.
Por outro lado, sustentou, "temos indicadores como o consumo de energia que têm valores de variação praticamente nula em janeiro".
Estes dois indicadores são únicos que "mais rapidamente dispomos para avaliar a situação económica". Nesse sentido, considerou, "ainda é uma informação mista para avançar com muito mais do que esta avaliação".
Sobre se 2021 ainda pode ser um ano de recuperação, o ex-ministro lembrou as revisões em alta feitas pelo FMI para a área do euro e para o conjunto da economia mundial para 2020, para 2021 e 2022. "Isso é um sinal de que, apesar deste início com algumas dúvidas, a tendência de crescimento global continua a estar presente", realçou.
Centeno disse ainda estarmos a viver um momento particular na economia em que há mais certezas sobre o médio e o longo prazo do que o curto prazo.
"Temos neste momento uma situação muito interessante, muito única e, ao mesmo tempo, difícil: Há mais incerteza sobre o curto prazo - fevereiro, março - do que a incerteza que as análises estabelecem para o final deste ano ou para 2022. O médio prazo está neste momento envolto em menos incerteza do que o curto prazo", notou.
Este é um cenário "difícil para os decisores políticos e para transmitir confiança para as pessoas e empresas, mas temos de viver com ela".
"Não querendo parecer otimiata", Centeno sublinhou quea revisão em alta do crescimento do 4.º trimestre de 2020 é muito relevante para o crescimento em 2021 porque estabelece uma base para o crescimento mais elevada".
E lembrou que as projeções do BdP para o primeiro trimestre de 2021 tinham um crescimento praticamente nulo porque "no nosso cenário base as medidas de confinamento apenas seriam levantadas no final desses três meses". Ou seja, "o impulso verdadeiro ao crescimento ocorreria no segundo trimestre do ano".
Todavia, "neste momento o que temos é este jogo de alavancas em que revimos em alta o quarto trimestre de 2020, mas provavelmente o primeiro trimestre de 2021 vai ser revisto em baixa", anteviu.
Sublinhando que a economia portuguesa tem muita margem para crescer, Centeno afirmou que se mantém a previsão de que no final de 2022 se possa ter um trimestre de crescimento com o nível do PIB idênticos ao final de 2019.
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