Em Ponte da Barca perde-se "muito dinheiro" com o fecho da fronteira

Francisco Araújo tem uma empresa de extração e transporte de madeiras que está a "perder muito dinheiro" com o encerramento da fronteira da Madalena, Lindoso, entre Ponte da Barca e a província de Ourense, na Galiza.

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© Reprodução Facebook / Município Ponte Da Barca

Lusa
14/02/2021 17:55 ‧ 14/02/2021 por Lusa

Economia

Covid-19

"Tenho cerca de mil toneladas de madeira que não carreguei com a esperança de que a fronteira fosse aberta, para não ter de dar a volta. Se se mantiver fechada não tenho mais remédio que carregar a madeira e dar a volta por Valença. Uma carga, em vez de me custar 200 euros, vai custar-me 550 euros", afirmou o empresário.

Na sexta-feira, o Ministério da Administração Interna (MAI) informou que o controlo de pessoas nas fronteiras entre Portugal e Espanha vai manter-se até 01 de março devido à pandemia de covid-19, passando a existir a partir de segunda-feira mais dois Pontos de Passagem Autorizados (PPA), em Melgaço e Montalegre.

Francisco Araújo, que falava aos jornalistas durante uma ação de protesto hoje promovida pela Câmara de Ponte da Barca, com a remoção do material que o município tinha colocado na fronteira da Madalena aquando do seu fecho, quis deixar um "recado" ao executivo nacional.

"O Governo sabe perfeitamente o que se está aqui a passar. É muita coincidência nas fronteiras que abriram as Câmaras serem todas da cor do Governo. Nós ficamos aqui, arrumados, completamente", alertou, dizendo que falava "em representação" de muitas empresas que "não puderam participar na iniciativa".

Francisco Araújo disse que "os muitos transtornos" causados pelo encerramento daquela fronteira ainda estão por contabilizar.

"Com esta fronteira aberta estamos a cinco minutos do trabalho e se tivermos de dar a volta pela fronteira de Valença levamos três horas e meia. Estamos a 10 quilómetros do monte e se dermos a volta até Ourense estamos a cerca de 600 quilómetros de distância [...]. É muito dinheiro. Não posso especificar agora a quantia, mas é muito dinheiro", lamentou.

Na sexta-feira, um outro empresário do setor da madeira disse à Lusa que os caminhos outrora percorridos para o contrabando entre Portugal e Espanha são agora a única solução dos trabalhadores transfronteiriços que "arriscam a vida para ganhar o sustento".

"Na terça-feira, um colega de trabalho caiu a um ribeiro e se não fossem os colegas o homem afogava-se. O Governo tem de ouvir estas coisas, porque se cai ao ribeiro e se não são os colegas a botar-lhe a mão, porque o rio ia muito cheio por causa da chuva, não sei se se safava", afirmou Manuel Araújo, de 57 anos, da freguesia de Lavradas, Ponte da Barca.

Manuel Araújo disse que é o "desespero" que leva as pessoas a "arriscarem a vida todos os dias" face ao encerramento da fronteira da Madalena.

"Eu conheço a maior parte da gente que passa pelo monte. É tudo gente pobre. Pais de filhos, vivem mal e andam pelo meio do monte. Cai, morre um homem, como o caso da semana passada, que tem filhos na escola, e quem vai trabalhar para essas crianças depois? Vai ser a mulher que trabalha no campo?", questionou.

O empresário justificou a travessia pelos montes que ligam as duas regiões transfronteiriças alegando que "a declaração de trabalhador transfronteiriço não vale de nada se as pessoas passarem a pé" nos pontos oficiais: "Serve para passar em Valença, mas não serve para passar a pé. Não deixam. Está a GNR a controlar".

Hoje, na ação de protesto que realizou, o presidente da Câmara de Ponte da Barca lançou um "forte apelo" ao Presidente da República para reabrir a fronteira da Madalena, considerando que a decisão do Governo de mantê-la encerrada "é de cariz político".

"Deixo aqui um forte apelo ao senhor Presidente da República para que olhe para a situação deste posto transfronteiriço. Bem sei que é pedir um esforço adicional de meios humanos, mas nós necessitamos de viver", afirmou Augusto Marinho.

O autarca social-democrata disse ter ficado "surpreendido" por a fronteira da Madalena não ter sido reaberta, após o pedido que fez ao ministro da Administração Interna.

"Manter esta fronteira encerrada é um grande erro e uma grande injustiça. Só quem não conhece a dinâmica desta fronteira ou faz uma gestão político-partidária - que quero acreditar que não seja o caso - é que toma a decisão de manter encerrada uma fronteira com o movimento que tem, quer ao nível de trabalhadores transfronteiriços, quer ao nível da intensa atividade de transporte de mercadorias", defendeu.

Para Augusto Marinho, a abertura parcial da fronteira "iria aliviar a fronteira de Valença, com tempos de espera muito elevados para quem trabalha, diminuindo o risco de contágio e atenuando a já difícil situação em que se encontram as famílias e as empresas da região".

Apesar da remoção do equipamento municipal, a fronteira permanece bloqueado com blocos de cimento.

No distrito de Viana do Castelo, o único ponto de atravessamento permanente faz-se através da ponte nova entre Valença e Tui.

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