Em declarações à Lusa, o presidente da CIP, António Saraiva, criticou o "peso excessivo" das verbas do PRR destinadas ao investimento público, contrastando com os "cerca de 30%" que serão disponibilizados à iniciativa privada.
"Há aqui um desequilíbrio no aproveitamento da gestão deste pacote e aquilo que desejamos é que haja um melhor equilíbrio na afetação das verbas levando à iniciativa privada e aos seus agentes económicos números mais substanciais, porque é assim que o país se modernizará", apontou o dirigente.
Lembrando que o PRR tem de ser executado num "curto espaço de tempo", até 2026, António Saraiva considera que "a estratégia nacional tem de ser bem coordenada", visando a "interação dos vários saberes", como o saber das empresas e das universidades, numa "virtuosa relação" que permita "colocar o país em melhores condições de competitividade" do que tem registado nos últimos anos.
"Temos agora uma oportunidade para colocar o país nessa rota de crescimento", defendeu, acrescentando que tal só é possível com o "reequilíbrio das verbas" disponibilizadas no PRR. "Sentimos que a sua afetação está francamente desequilibrada", sublinhou.
O Governo prevê usar 558 milhões de euros, do total de 13,9 mil milhões que irá receber em subvenções a fundo perdido do Mecanismo de Recuperação e Resiliência, nas agendas de reindustrialização, um montante que, de acordo com o executivo, visa "acelerar a transformação estrutural da economia portuguesa".
Contudo, António Saraiva diz não acreditar que tal objetivo seja concretizado. Antes, admite que o montante disponibilizado "dar-lhe-á com certeza um impulso", mas "exige-se uma reafetação das verbas", reiterou.
Estas verbas, aliadas às do Quadro Financeiro Plurianual (QFP), que o país ainda irá receber, "são uma oportunidade para que Portugal defina estratégias de desenvolvimento, para que o país possa crescer digno desse nome e abandonar o crescimento anémico que registou nos últimos 20 anos".
Para tal, o país deve "apostar em setores estratégicos, modernizando e especializando a economia, diversificar setores e dar condições às empresas para que possam gizar estratégias de inovação, de valor acrescentado, e para que possam olhar o mundo numa estratégia de internacionalização em que têm de ser apoiadas", defendeu.
Para António Saraiva, "estas verbas vêm estimular o arranque de um conjunto de fatores, mas não são suficientes para a ambição que o país tem de ter", insistindo na necessidade de alocar as verbas do PRR numa "conjugação de esforços entre a parte pública e privada, num correto aproveitamento dos fundos europeus".
A CIP garante que vai "insistir nestas posições" no decurso da consulta pública do PRR, que estará disponível até 01 de março.
Desta consulta pública, o secretário Adjunto e da Economia, João Neves, disse à Lusa que poderão resultar "elementos de ajustamento do plano", sem deixar de "ter presente os regulamentos comunitários".
"Julgo que a nossa proposta vai muito ao encontro das preocupações centrais que estão presentes no regulamento da UE", sublinhou João Neves, em declarações à Lusa, admitindo estar "confiante" de que o plano nacional estará "na primeira linha de aprovações" do bloco comunitário.
No domínio económico, o secretário de Estado sublinhou que o PRR visa responder a três desafios, nomeadamente a "transição digital", a "descarbonização da indústria" e as "agendas de reindustrialização".
Embora admita que este será "um processo demorado", o responsável diz acreditar que é possível "ajudar a que essa alteração seja mais rápida" com as verbas disponibilizadas no PRR.
Para que os objetivos traçados no plano possam ser alcançados, João Neves admite ser necessário "um esforço coletivo entre o Estado e os agentes económicos", apelando, por isso, a um "debate informado" neste período de consulta pública do PRR.