A política foi implementada pela anterior administração de Donald Trump, que baniu a utilização de equipamentos de telecomunicações de empresas estrangeiras consideradas um risco de segurança nacional, afetando dezenas de empresas chinesas que o governo disse terem ligação ao exército chinês, notoriamente a gigante Huawei.
"Não tenho a certeza de qual o objetivo desta política norte-americana", declarou Karabell, autor do livro "Superfusion" sobre as relações económicas entre os EUA e a China.
Para Karabell, "o único resultado foi estropiar a Huawei e outras empresas, sem conseguir produzir domesticamente equipamento similar a custo equivalente".
O evento, organizado pela Techonomy e intitulado "Globalização e Cooperação: Que futuro tecnologizado iremos criar?", contou com a presença da vice-presidente de Relações Públicas da Huawei Technologies, Joy Tan, e com o autor Scott Malcomson, que escreveu "Splinternet: Como a geopolítica e o comércio estão a fragmentar a World Wide Web".
A política tem sido continuada pela administração de Joe Biden e impede, por exemplo, que as operadoras de telecomunicações norte-americanas utilizem componentes das empresas banidas na instalação de redes 5G.
"Se eles pensam que vão coagir o governo chinês a agir de forma diferente isto é um fracasso, porque não tem peso suficiente", considerou Karabell.
Scott Malcomson alertou, no entanto, que a utilização de tecnologia de empresas chinesas não é isenta de riscos.
"Irá o governo chinês influenciar as tecnológicas chinesas para que estas cumpram os seus intuitos? A resposta é sim", afirmou.
O autor citou o exemplo recente da empresa de têxteis sueca H&M, que decidiu não comprar algodão à província chinesa de Xinjiang devido ao uso de trabalho forçado da minoria Uigur e em pouco tempo foi removida de todas as aplicações de Internet e plataformas de comércio do país.
"Esse é o tipo de poder que o governo chinês está disposto a exercer", apontou Malcomson, reforçando que Pequim tem um enorme "nível de controlo" sobre as empresas domésticas.
Mas Joy Tan negou que empresas como a Huawei estejam sob a alçada de leis obscuras na China, afastando o receio elaborado por entidades ocidentais de que o seu equipamento contenha uma "porta dos fundos" para espionagem de comunicações.
"Não há qualquer maneira de a Huawei fazer espionagem ou trabalho não permitido pelos operadores", garantiu Joy Tan, sublinhando que estas são "tecnologias complexas" que muita gente não entende.
"Pensam que a Huawei pode simplesmente aceder à rede sem aprovação, mas os operadores têm controlo total", acrescentou.
A responsável disse que o bloqueio da Huawei e de outras tecnológicas chinesas nos Estados Unidos é, em parte, responsável pela crise que se está a verificar no fornecimento de semicondutores, afetando a cadeia logística global.
Zachary Karabell antecipou que este bloqueio irá causar atrasos no 5G. "Os EUA não estão a produzir o equipamento que iriam comprar à Huawei", disse.
"Haverá uma implementação mais lenta de 5G com tecnologia desadequada", defendeu.
O autor também considerou que existe uma "equivalência moral" entre estas potências, afirmando que as políticas protecionistas da China não são muito diferentes de outros estados soberanos.
Isto porque Scott Malcomson apontou para o facto de que a estratégia chinesa em matéria de tecnologia e telecomunicações tem sido de autossuficiência, exercendo uma proteção isolacionista do seu mercado.
"As empresas americanas não têm hipótese de competir livremente no mercado chinês, nem nunca tiveram", disse Malcomson.
O autor referiu ainda um documento de 2015 no qual o governo chinês delineou ambições para criar uma infraestrutura de telecomunicações mundial, desde o espaço aos cabos submarinos.
"Podemos imaginar um sistema de redes globalizadas em que todas as comunicações têm de passar pela China", disse.
"A China quer controlar tudo isto, e tem a capacidade de pôr as empresas a fazerem o que quer", alertou.
Malcomson prevê que o país asiático irá continuar a isolar as suas empresas e a proteger o seu enorme mercado, mas considerou que os EUA não vão perder a corrida do 5G.
Avisou, no entanto, que os países ocidentais negligenciaram as infraestruturas nos mercados em desenvolvimento, desde a África à América Latina, e que empresas chinesas como a Huawei e a ZTE adquiriram enorme poder por causa disso.
Joy Tan, por seu lado, considerou que desenvolver cadeias logísticas separadas "não serve os interesses de ninguém" e que as leis de segurança nacional na China são similares às que existem noutros países.
A executiva apelou ao trabalho colaborativo e reiterou que os sistemas da Huawei "são as soluções mais escrutinadas e testadas do mundo".
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