Investigador e especialista em ambiente e alterações climáticas, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, Filipe Duarte Santos comentou em declarações à Lusa as conclusões do sexto relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado hoje.
No documento os cientistas alertam que a temperatura global subirá 2,7 graus Celsius (ºC) até 2100 se se mantiver o atual ritmo de emissões de gases com efeito de estufa, e dizem que o aumento das temperaturas será mais rápido do que o previsto no relatório de há rês anos, que os sorvedouros naturais de dióxido de carbono (CO2), como oceanos e florestas, estão a enfraquecer, e chamam ainda a atenção para o aumento do nível do mar e para os desastres climáticos que o aquecimento global está a provocar.
Filipe Duarte Santos salientou do documento, como principal preocupação, a constatação de que há uma aceleração do aquecimento global, que deve chegar aos 1,5ºC já em 2030.
Depois, disse, o relatório refere duas regiões como das que serão mais afetadas, uma o ártico, onde as temperaturas vão subir muito mais do que a média global, e a região do mediterrâneo, incluindo a Península Ibérica, onde a temperatura já aumentou 1,5ºC em relação à época pré-industrial.
"Na região mediterrânica a precipitação média anual tem diminuído e isso não são boas notícias, porque há impactos nos recursos hídricos e na agricultura, entre outros setores", disse Filipe Duarte Santos à Lusa.
O investigador reconheceu que a Europa tem liderado o processo de descarbonização da economia mundial, mas lembrou que o problema do aquecimento é global e que por isso é preciso que todos os países contribuam.
E se os Estados Unidos ou a China estão a elaborar planos, economias como a Índia vão precisar de ajuda para enfrentar o aquecimento global, disse o professor. A próxima cimeira mundial do clima, em Glasgow, é importante porque é "mais uma oportunidade" para se tomarem decisões, adiantou.
Questionado pela Lusa sobre se a espécie humana enfrenta perigo de extinção devido às mudanças climáticas, Filipe Duarte Santos disse não acreditar que tal aconteça, porque o ser humano consegue adaptar-se.
"Mas se persistirmos neste caminho de uso de combustíveis fósseis e desflorestação vamos ter cada vez mais eventos extremos intensos e frequentes", como ondas de calor, secas, inundações e enxurradas, avisou.
Ainda que, disse, não esteja em causa um problema de extinção, as alterações climáticas vão provocar cada vez mais refugiados climáticos, mais insegurança alimentar, e menos qualidade de vida, especialmente em países mais pobres.
E o mundo, afirmou, vai ser mais violento e hostil.
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