Obrigações indexadas à inflação são aposta no atual contexto

A diversificação da carteira para ativos que em ambiente de estagflação registaram historicamente boas performances e considerar obrigações indexadas à inflação estão entre as recomendações, no atual contexto, dos analistas consultados pela Lusa.

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Lusa
18/02/2022 14:58 ‧ 18/02/2022 por Lusa

Economia

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"Em primeiro lugar, é recomendável o investimento efetivo como contrapartida da poupança acumulada em depósitos. De seguida, na seleção de ativos, é essencial uma boa diversificação dos fatores de risco, como forma de ultrapassar o previsível aumento de volatilidade. Devemos por isso, recorrer àqueles ativos que, em ambiente de estagflação [situação simultânea de estagnação económica, ou até mesmo recessão, e altas taxas de inflação], registaram historicamente boas performances", disse Nuno Sousa Pereira, diretor de investimentos da Sixty Degrees, em declarações à Lusa.

Para o analista, perante o atual cenário, os investidores devem apostar em "ativos reais, como imobiliário, matérias-primas ou ações de empresas financeiramente estáveis ligadas a estes setores", bem como em ativos "em geografias cujo crescimento económico é mais dinâmico e robusto".

Nuno Sousa Pereira explica que a estratégia também pode passar por "ações de empresas cujo modelo de negócio possa beneficiar da subida das taxas de juros ou que tenham um domínio de mercado que lhes permita passar aumentos de custos para o cliente final" ou, "neste cenário de maior competição por crédito escasso, é também essencial a escolha de empresas com balanços sólidos e que não apresentem dificuldades de liquidez".

Uma estratégia também recomendada por Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, que explica, em declarações à Lusa, que "ações de empresas que conseguem repassar os custos mais altos aos seus consumidores finais tendem a mitigar uma elevada inflação, e podem ser, atualmente, uma das formas de proteção contra a inflação", tal como "ações de empresas maduras, com negócios sólidos e lucros sustentados, que conseguem repassar custos aos seus clientes, e menos sensíveis à subida das taxas e juro, podem ser uma escolha adequada neste cenário".

Paulo Rosa assinala ainda que uma das estratégias para os investidores escaparem ao impacto da inflação pode ser a aposta em obrigações indexadas à inflação.

No entanto, sublinha que "atualmente esta opção já desconta uma razoável subida de juros e os seus preços refletem os atuais níveis elevados de inflação, em máximos dos últimos 40 anos nos EUA e dos últimos 30 anos na Alemanha, mas se a inflação abrandar ao longo do ano, as 'Inflation Linked Bonds' tendem a desvalorizar".

Já a Allianz Global Investors (GI), que também sugere a aposta em obrigações indexadas à inflação, começa por sugerir que os investidores tenham "uma alocação suficiente de ações", uma vez que, diz, "ações podem oferecer potencial de crescimento para ajudar a resolver a "ameaça disfarçada" da inflação".

Num guia divulgado esta semana, a gestora de ativos diz ainda que considerar a dívida privada/ações "pode ajudar os investidores institucionais a protegerem-se de e até mesmo a beneficiarem de uma inflação sustentada", bem como considerar "ações 'value'", já que "períodos de inflação mais elevada têm historicamente favorecido o investimento de estilo 'value' ('versus' crescimento)".

"Os investidores de valor procuram em geral "recuperar" o seu investimento mais cedo, e a inflação faz com que o dinheiro valha hoje mais do que dinheiro amanhã", referem.

Procurar matérias-primas e ouro é também apontado como uma estratégia pela Allianz GI para os investidores enfrentarem a inflação.

Contudo, o economista Paulo Rosa sustenta que "o ouro protege de uma inflação associada a um fraco crescimento económico ou recessão. Mas, atualmente, não é o caso, e o ouro não será tão atrativo numa conjuntura de subida de taxas de juro".

"As empresas com 'pricing power' que conseguem repassar os custos mais elevados aos seus clientes finais, poderão mitigar esta alta da inflação e ser uma plena alternativa ao ouro. Além disso, os lucros das empresas que conseguem repassar os custos aos consumidores crescem em termos nominais e tendem, assim, a ficar protegidos pela subida da inflação", disse o economista do Banco Carregosa.

O economista assinala que o ouro está em máximos dos últimos oito meses e é um ativo de refúgio por excelência quando existem tensões geopolíticas.

"A reversão da política monetária dos bancos centrais e a adoção de uma postura de subida de taxas de juro retira 'brilho' ao ouro. No entanto, quaisquer sinais de desaceleração económica nos EUA, ou globalmente, voltam a impulsionar a cotação do ouro", acrescenta.

Nuno Sousa Pereira, diretor de investimentos da Sixty Degrees, antecipa que, caso a inflação se mantenha persistentemente a níveis elevados e os bancos centrais ajustem a política monetária acima do atualmente descontado, "é natural que o crescimento económico possa sofrer alguma uma desaceleração e que as perdas nos mercados financeiros (em especial os de divida) possam agravar-se".

Por outro lado, diz, "em caso de moderação na subida da inflação, poderemos assistir a um ajuste mais lento dos preços dos ativos, o que deverá permitir aos portfolios diversificados a absorção controlada de eventuais perdas em ativos mais sensíveis, no cenário atual, pelas boas performances dos restantes ativos mais resilientes".

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