Em entrevista à Lusa, Raul Martins lembra que, após um 2020 muito prejudicado pela pandemia de covid-19, o setor tinha iniciado "a retoma" no verão de 2021 quando chegou "a quinta vaga que veio dificultar muito a situação".
Juntou-se-lhe o facto de os apoios do Governo serem "muito lentos na sua aplicação, com "processamento muito complicado", a falta de extensão dos prazos das moratórias, o que criou "uma perturbação muito grande" naquela que foi "a segunda retoma, se assim se pode dizer", acrescentou.
Para além disso, afirmou, acrescentaram-se no final do ano passado as dificuldades para encontrar mão de obra, constrangimento que a AHP diz continuar a fazer esforços para minorar e já ter melhorado.
Ainda assim, "o quadro da situação de aumento de procura com falta de mão de obra agravado agora pela situação do aumento dos custos de energia e, consequentemente, dos bens essenciais, nomeadamente dos alimentos, vem criar aqui uma nova dificuldade na retoma", disse Raul Martins.
"Estamos aqui numa encruzilhada que traz novas dificuldades e nós temos que ter o apoio do Governo também para resolver", disse, constatando o facto de a Comissão Europeia estar "a abordar o tema dos custos, portanto de energia, e de fazer o controlo desses custos por forma a eles não serem tão grandes que façam implodir a economia".
Agora, se até aqui e "de uma forma geral em Portugal" os preços na hotelaria têm conseguido não descer -- embora com menos procura --, com esta conjuntura o inverso será difícil não acontecer.
"Os preços não são elásticos. (...) De uma forma geral, em Portugal, não temos assistido a uma redução de preços por todas as razões e mais uma: porque os custos também aumentaram e, portanto, de uma forma geral os hotéis também não o têm feito [descido] e ainda bem que não o têm feito. Nós temos valor. Portugal tem valor suficiente para poder dizer que a relação qualidade preço é de facto imbatível para muitas outras situações, nomeadamente na Europa", justificou Raul Martins.
Assim, quando questionado se vai haver aumentos de preços na hotelaria, o presidente da AHP admite que sim.
"É provável que haja um aumento de preço na hotelaria. Muito provável se esta situação perdurar no tempo e nós não vemos, não temos -- digamos --, ideia de que ela possa acabar a curto prazo. Não há uma expectativa de que a curto prazo se resolva, portanto, temos que admitir que se vai prolongar e se não houver a fixação de preços de matérias-primas e de bens alimentares a situação na hotelaria tem que refletir esses preços (...), porque as margens que hoje em dia existem na hotelaria são poucas e, portanto, não temos elasticidade" para aguentar sem o fazer, afirma, acrescentando, no entanto, que se isso acontecer os clientes serão menos.
"Nós, ao aumentarmos os preços, nomeadamente das refeições, vamos fazer com que os clientes não venham e a outra situação ainda mais gravosa é que o preço do aumento dos combustíveis levará ao preço do aumento nos transportes aéreos que é aquilo que Portugal é dependente em cerca de 90% [para trazer turistas]. E se isso não for controlado, teremos os transportes aéreos mais caros e, como tal, teremos menos clientes", lamentou.
Por tudo isto, insiste: "Estamos numa encruzilhada".
Raul Martins diz que é urgente conseguir controlar esses preços.
Sobre quando se pode esperar que a subida de preços na hotelaria venha a acontecer, diz que o setor "tem aqui uma folga", já que a situação do aumento dos combustíveis "não tem um efeito imediato nos hotéis".
Isto é, "quem contratou no ano passado os preços de energia [luz] nomeadamente, e do gás, eles estão estáveis, têm um preço fixo ainda que maior, o que permitiu fazer os preços. No entanto, na medida em que o preço dos combustíveis entre em todos os produtos, nomeadamente os alimentares, isso demora um tempo, mas em abril eles estão aí. Portanto, as medidas da Comissão Europeia têm que ser postas cá fora e os apoios têm que ser postos cá fora até ao final deste mês [março], porque senão a hotelaria tem que aumentar preços a partir de abril", advertiu.
"Não temos perspetiva de que a guerra a curto prazo se resolva, é um dado da equação que não podemos contar. Portanto, temos que olhar para o momento presente e para aquele que no futuro se possa vir a repercutir e têm que ser os governos a suportar, digamos, esses diferenciais", refere.
Assim, o responsável considera que, no âmbito do que tem vindo a ser apontado, as medidas terão que passar pela "redução dos impostos que de uma forma geral na Europa existem sobre [os combustíveis]", havendo "um teto", com a Comissão Europeia e Estados, a "suportarem esse diferencial".
"Não vejo outra forma para que a economia não entre numa situação que pode levar à implosão", concluiu.
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