"Nós não impedimos as agências de viagens de vender os nossos lugares, nós só não lhes damos comissões", disse à Lusa Michael O'Leary, à margem de uma conferência de imprensa, em Lisboa, após ter sido questionado sobre a queixa interposta pela Associação Nacional de Agências de Viagens (ANAV) contra a Ryanair na Autoridade da Concorrência (AdC), acusando a companhia aérea de práticas lesivas para o setor e para os clientes finais.
O responsável da companhia aérea irlandesa, que começou por responder que "há sempre queixas das agências de viagens", vincou que o valor de uma comissão teria de ser passado ao consumidor final, aumentando o preço dos bilhetes.
"Existem agentes de viagens 'online' que estão envolvidos na revenda dos nossos lugares e inflacionam os preços, [...] isso é ilegal e vamos continuar a combatê-lo", acrescentou O'Leary.
Em comunicado enviado na semana passada, a associação avançou que, na queixa, denunciava "práticas de discriminação, abuso de posição dominante, potencial violação de RGPD [Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados] e falta de apoio a pessoas portadoras de deficiência, entre outras", por parte da companhia aérea irlandesa.
Entre as várias alegações apresentadas pela ANAV, incluem-se dificuldades criadas na gestão de reembolsos para clientes, a obrigatoriedade de leitura facial caso seja necessário fazer a verificação do cliente, problemas relacionados com a cobrança de bagagem de mão e o apoio "praticamente inexistente" a passageiros portadores de deficiências.
Ainda questionados são a cobrança de valores extra a adultos que viajam com crianças, a recusa ou quase impossibilidade de marcação de reservas por agências de viagens e o "domínio evidente sobre as reservas na maioria das rotas disponíveis" resultante do número de 'slots' que a companhia foi conquistando, sobretudo nos aeroportos do Porto e de Faro, devido ao crescimento da respetiva operação.
Segundo fonte oficial, a associação representa "mais de 10% do mercado nacional" de agências de viagens, entre as quais a Consolidador.com, Godiscover e Repartir Viagens.
Já questionado sobre a multa de 107,7 milhões de euros aplicada pelo Governo espanhol à Ryanair, e também a outras companhias, pela cobrança de bagagem de mão ou escolha de lugares contíguos, Michael O'Leary disse estar a aguardar resposta do executivo à Comissão Europeia que, segundo o responsável, já sinalizou que "aquelas multas são ilegais".
"Ao ministro [dos direitos do consumidor, Pablo Bustinduy] que diz que a Ryanair deve obedecer à lei espanhola, nós dizemos 'vocês devem obedecer à lei da União Europeia'", respondeu.
O presidente executivo da transportadora aérea realçou ainda que, "se as multas não caírem, os preços serão muito mais altos para os consumidores em Espanha e haverá menos voos", argumentando que o ministro "claramente, não está a defender os consumidores".
"Cerca de 60 milhões de consumidores voaram pela Ryanair em Espanha no ano passado, apenas três milhões votaram nele e no partido dele, portanto 20 vezes mais consumidores apoiam a Ryanair do que este ministro louco e as suas multas ilegais", rematou Michael O'Leary.
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