Comuns nestas águas, os dugongos são a par de baleias, golfinhos e de recifes considerados entre os mais biodiversos do mundo, os principais atrativos do que é, claramente, a ponta de lança do ainda emergente turismo em Timor-Leste.
Antes da pandemia da covid-19, e a somar-se aos muitos residentes no país que já se dedicavam ao mergulho, estava em franco crescimento o segmento turístico dos mergulhadores, com turistas de vários países a visitar Timor-Leste especificamente para conhecer as suas águas.
Ainda que relativamente desconhecido, o destino de Timor-Leste tem vindo, nos últimos anos, a destacar-se entre a comunidade internacional de mergulho, especialmente depois de em 2012, os cientistas marinhos Mark Erdmann e Gerry Allen terem levado a cabo uma avaliação da região de Ataúro num projeto da Conservation Internacional.
Essa primeira avaliação indicou que a zona era a 7ª com maior diversidade de peixes de entre 50 zonas do Triangulo do Coral.
Em 2016 um estudo mais detalhado foi ainda mais longe com os cientistas a identificarem 252 especies de peixes de corais nas águas de Ataúro, mais do que em qualquer outro lugar do planeta, levando Jerry Allen a considerar a zona analisada "a mais biodiversa do mundo".
Professora em Timor-Leste, Fátima Alves começou a mergulhar em fevereiro de 2019, depois de alguns anos a adiar constantemente um desafio a que muitos estrangeiros e alguns timorenses têm respondido.
"Veio um colega nosso que conheceu todas as escolas de mergulho e fomos todos fazer o curso de Open Water. O primeiro sítio onde mergulhei foi na baía de Tasi Tolu", recordou à Lusa.
"Ataúro é lindíssimo, enche o olho, tem muita cor, muita variedade de peixe. Mas gosto muito de Tasi Tolu que é onde se encontram as coisas mais pequeninas, mais inesperadas", explica.
Em apenas três anos e meio, Fátima Alves fez 500 mergulhos -- além dos professores é dos mergulhadores mais experientes no país -, dos quais 200 só no último ano.
"A pandemia ajudou. muitos foram embora, as pessoas andavam sem saber o que fazer. Dili ficou assim uma espécie de paraíso calmo e tranquilo e sem restrições fui mergulhar. Sou um bocado viciada nisto", disse.
"É bom mergulhar em Timor porque as águas são calmas, o mar é lindíssimo, e há uma quantidade imensa de vida animal. Mas agora acho que mergulhava em qualquer sítio. Adoro estar no mar. Acho que é a sensação mais próxima a voar", confessa.
Um vicio que em Timor-Leste tem ainda uma grande particularidade: ao contrário de outros destinos de mergulho, onde os turistas parecem ser mais que os peixes, aqui os grupos são muito mais reduzidos.
"Mergulhar é terapia. Quando estás lá em baixão meditas. E uma das melhores coisas é que não há multidão. Em vários locais, por exemplo, tens mais mergulhadores que peixes. Aqui não", disse.
Apesar de todo o potencial, Timor-Leste continua a sentir as dificuldades do pouco desenvolvimento que o setor do turismo tem tido no país, com carências de infraestruturas básicas.
Fátima Alves nota, por exemplo, a falta de uma câmara hiperbárica -- essencial em caso de problemas de descompressão -- ou de melhores infraestruturas de apoio em alguns locais de mergulho.
Cássio Schumacher, da escola de mergulho Aquática, em Díli, explicou à Lusa que o essencial é apostar em infraestruturas básicas -- como um pontão para acesso aos barcos de recreio que levam os mergulhadores -- e mais promoção do destino.
"Não precisamos já de uma rede nacional de infraestruturas. Podemos começar em Díli para já, estabelecer os destinos acessíveis, antes de ir alargando a outros locais. E o pontão em Díli é uma excelente aposta", disse.
Essencial, porém, é também dar a conhecer o destino, dando a conhecer um local ainda desconhecido, onde as viagens são caras, mas que "vale mesmo a pena".
"Há aqui gente muito experiente no mergulho, com experiências em grandes locais de mergulho. E Ataúro é mergulho de nível mundial, com os recifes considerados dos mais biodiversos do mundo, um sinal no tema do quão especial é a vida marinha aqui", afirmou.
Outro dos grandes atrativos, sublinha, são as baleias, comuns na costa norte de Díli e um dos aspetos mais ricos dos mares do país.
"Na época da migração podes estar sentado na costa e ver passear as baleias. E isto pode ser a ponta da lança do turismo marítimo. Vêm para ver as baleias, porque não se encontram noutros locais", afirmou.
"Por isso venham a Timor, que vale a pena. É caro, mas vale a pena. No mergulho os operadores são muito experientes e os recifes vão deixar uma memória incrível", sublinhou.
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