"A minha opinião sobre o imposto não mudou. Vamos ver como vai ser e o que diz o relatório do Banco Central Europeu e, em função disso, vamos decidir como proceder no banco", afirmou Maria Dolores Dancausa durante a conferência de imprensa de apresentação dos resultados do terceiro trimestre do Bankinter, que decorreu por meios telemáticos a partir de Madrid.
Embora garantindo que, "tal como no passado e no presente, no futuro" o banco vai cumprir as suas obrigações fiscais, a presidente do Bankinter deixou em aberto a possibilidade de contestar judicialmente o novo imposto: "Se entendermos que devemos tomar medidas nos tribunais, porque vimos prejudicados os nossos interesses, fá-lo-emos, porque a nossa responsabilidade como gestores e administradores é defender os interesses dos mais de 60 mil acionistas que tem o Bankinter", sustentou.
Segundo referiu, o imposto está ainda "em tramitação parlamentar", pelo que não se conhecem "os detalhes técnicos" e se mantêm "grandes incógnitas".
"Ainda não sabemos se é sobre os lucros de 2022 e 2023 ou 2023 e 2024. Enfim, ainda não sabemos muito bem o que esperar", disse, sustentando, contudo, que "é um imposto injusto, arbitrário, discriminatório e confiscatório", para o qual não foi dado "nenhuma justificação racional".
"Quanto ao argumento de que há que devolver as ajudas que se deram [à banca] no resgate na anterior crise financeira, o Bankinter nunca recebeu nada, nunca pedimos nenhuma ajuda pública. Pelo contrário, na crise financeira o que fizemos foi contribuir para esse resgate", disse.
"Portanto -- acrescentou -- se isto se faz para devolver as ajudas, deviam excluir os bancos que não as receberam, para ser justo. Mas não é assim".
O Governo espanhol quer aplicar aos bancos e às empresas energéticas, assim como às grandes fortunas, um imposto extraordinário e temporário, por dois anos, de forma a financiar medidas para responder à crise atual gerada pela guerra na Ucrânia e pela inflação.
Questionada sobre o potencial aumento dos níveis de crédito malparado devido à escalada da inflação e subida das taxas de juro, Maria Dolores Dancausa considerou que, sendo o "cliente tipo" do banco "de nível económico médio e médio/alto", essa situação "vai afetar menos" a instituição.
"Mas temos os níveis de incumprimento muito controlados, por isso estamos tranquilos", disse, admitindo que alguns clientes vivam "momentos complicados", mas revelando que o banco não tem recebido, até agora, pedidos de renegociação de créditos.
Antecipando que "os próximos meses serão, sem dúvida, muito complicados", a presidente do Bankinter admitiu que, "se houver uma recessão, tal pode afetar os níveis de cumprimento".
"Mas, independentemente do perfil dos nossos clientes, temos muita confiança nas políticas de risco que aplicamos, porque somos muito prudentes", reiterou, acrescentando: "Temos provisões mais do que suficientes para enfrentar isso. Neste momento, estamos muito tranquilos".
A este propósito, o diretor financeiro do Bankinter, Jacobo Díaz, destacou que a cobertura assegurada pelas provisões "continua a ser a mais alta da história" do banco, até porque não foram ainda libertadas as provisões relacionadas com a pandemia, que ultrapassam os 100 milhões de euros.
Relativamente à política de distribuição de dividendos do banco, num contexto de prudência recomendada pelo supervisor, a presidente do banco espanhol disse não estar prevista qualquer alteração: "Vamos manter o 'payout' de 50% e não vemos razões para o mudar. Temos sido sempre consistentes ao longo dos anos e há que diferenciar entre entidades que podem ter mais necessidade de ser um pouco mais prudentes e outras que não".
"Por outro lado, não liberámos nenhumas das provisões que constituímos para o período da pandemia, continuamos a ter essas provisões extraordinárias, por isso estamos preparados para enfrentar um período económico mais difícil que possa vir", disse.
Questionado sobre se o banco mantém o objetivo de regressar, em 2023, aos níveis recorde de 2019, quando registou um lucro de 550 milhões de euros, o diretor financeiro Jacobo Díaz disse que "o compromisso se mantém", apesar da deterioração do cenário macroeconómico: "Sabemos que há muita incerteza, mas confiamos muito nas nossas capacidades e creio que o vamos conseguir. Continuamos muito confiantes", referiu.
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