Economia timorense a recuperar, mas país enfrenta vários riscos futuros

A economia timorense está a recuperar dos efeitos da crise política e da pandemia da covid-19, mas o país enfrenta vários riscos nos próximos anos, indicou o Banco Mundial, num relatório divulgado hoje.

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© Paula Bronstein/Getty Images

Lusa
01/12/2022 06:35 ‧ 01/12/2022 por Lusa

Economia

Covid-19

"A economia de Timor-Leste está lentamente a recuperar. Depois de uma recuperação de 2,9% em 2021, a economia está no caminho certo para crescer ainda mais 3,0% em 2022", refere o relatório, com o tema "Honrar o passado, garantir o futuro".

"No entanto, o PIB [produto interno bruto] 'per capita' não regressou aos níveis pré-pandemia. Nos últimos cinco anos, a economia registou três anos de crescimento negativo do PIB real não petrolífero. O PIB 'per capita' diminuiu (...) a incerteza política, uma emergência sanitária global e uma catástrofe natural afetaram uma economia que depende em grande parte do setor público", sublinha.

O relatório aponta a elevada taxa de inflação do país, a atingir 7,9% em agosto, como "uma das mais altas da região do Pacífico Oriental", com os preços de bens alimentares a crescerem 8,3%, em parte devido ao aumento dos preços globais dos alimentos, impulsionado por custos mais elevados de transporte e fertilizantes, e preocupações com os impactos das inundações no Paquistão.

"Preços dos produtos alimentares mais elevados colocam o fardo mais pesado nas populações vulneráveis de Timor-Leste", alerta o Banco Mundial (BM).

Do lado positivo, a apreciação de cerca de 10% na taxa de câmbio efetivo (REER) tornou as importações mais baratas para Timor-Leste, cuja moeda oficial é o dólar dos Estados Unidos.

"Um dólar americano mais forte pode também ter ajudado a moderar as pressões dos preços. A conta corrente que inclui receitas de vendas de hidrocarbonetos manteve um excedente de quase 5% do PIB. No entanto, apesar de uma forte expansão das receitas turísticas de uma base muito baixa, o crescimento das importações totais superou consideravelmente a das exportações totais", refere.

Particularmente significativo é o comportamento do saldo do Fundo Petrolífero, que era, no final de setembro, de 16,9 mil milhões de dólares (16,2 mil milhões de euros) - "quase 10 vezes o PIB em 2022" -- uma queda de mil milhões (958 milhões de euros) desde o final do segundo trimestre do ano.

"O Fundo registou mais de 2,5 mil milhões de dólares [2,3 mil milhões de euros] de perdas durante os primeiros três trimestres de 2022, devido aos fracos retornos de investimento e reavaliações de ativos", explica.

"Se não houver fluxos de um novo campo de produção de hidrocarbonetos ou uma mudança considerável na política orçamental do Governo, o saldo do Fundo Petrolífero deverá estar totalmente esgotado até 2034", alerta.

A retoma económica evidencia-se no aumento da cobrança de receitas -- cerca de 2% mais elevadas nos primeiros três trimestres do ano, face ao período homólogo de 2021 -, com a execução do Estado a voltar a níveis pré-pandemia.

"A execução das despesas públicas cresceu 15%. Os gastos de capital subiram de uma base muito baixa. Fixada nos 16,7% até ao final de setembro de 2022, embora com melhorias relativas, a taxa de execução da despesa de capital continua a ser muito baixa", alerta.

Neste quadro, o BM antecipa que o crescimento económico se mantenha em torno dos 3% nos próximos dois anos, com a inflação a cair para 2,5% em 2023.

"O saldo do Fundo Petrolífero vai deteriorar-se ainda mais, enquanto o saldo da balança corrente voltará a ter um grande défice em 2023, quando as exportações de petróleo cessarem. Timor-Leste mantém-se em risco moderado de endividamento global e externo para além do médio prazo", nota o relatório.

Entre os riscos adicionais, a instituição destaca o possível abrandamento da economia, potenciais desastres naturais, um agravamento das condições financeiras globais e os elevados preços no mercado internacional de matérias-primas e alimentos.

"As bolsas internacionais deprimidas afetariam os retornos de investimento do Fundo Petrolífero através de reavaliações negativas", explica.

"O reforço das capacidades produtivas através de reformas estruturais e a melhoria da qualidade das despesas públicas são a chave para acelerar e sustentar o desenvolvimento económico. Para atingir a meta de crescimento de 7% prevista no programa de Governo, é crucial apoiar o desenvolvimento do setor privado".

Na apresentação do relatório, em Díli, o responsável do BM Bernard Harborne destacou alguns dos aspetos do relatório e das preocupações da instituição, nomeadamente o risco da instabilidade política em Timor-Leste.

"Uma ampla maioria das empresas que inquirimos refere que o seu maior obstáculo tem sido instabilidade política", disse, lembrando que parte do crescimento negativo registado nos últimos anos no país se deveu à instabilidade política.

Harborne disse ser essencial que o próximo Governo dê continuidade a "coisas positivas que têm vindo a ser implementadas", e desafiou os líderes timorenses a chegarem a um "consenso político em torno às políticas essenciais e à reforma".

Alertou novamente para a necessidade de diversificar a economia, saudou recentes progressos como o novo porto de Tibar, mas considerou essencial "um esforço continuado e concertado para lidar com os obstáculos ao desenvolvimento e à diversificação económica".

Leia Também: Portugal vai apoiar Timor-Leste para desbloquear travões ao investimento

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