"Não tenho pressa para recomeçar, se virmos os custos a subir muito vamos esperar", alertou Patrick Pouyanne, durante uma conversa telefónica com investidores, citada pela agência de informação financeira Bloomberg.
O líder da petrolífera francesa que lidera o projeto de investimento de mais de 20 mil milhões de dólares (18,7 mil milhões de euros) na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, deixou assim claro que os custos do projeto, que está atualmente suspenso devido à insegurança, serão importantes na decisão que está a ser avaliada de voltar a Moçambique.
Além dos custos do projeto, nomeadamente a renegociação de contratos com fornecedores locais e subempreiteiros, Patrick Pouyanne vincou ainda que a questão dos direitos humanos será também uma parte fundamental da decisão.
"Quero ter uma visão clara sobre a questão dos direitos humanos", acrescentou o empresário na conversa com analistas e investidores, referindo-se ao relatório que encomendou sobre a situação de direitos humanos no norte de Moçambique.
As declarações de Pouyanne surgem cerca de uma semana depois de uma visita ao norte do país, feita com o Presidente da República moçambicana, Filipe Nyusi.
"Baseado numa recente visita a Moçambique, Pouyanne disse que as coisas voltaram ao normal do ponto de vista da segurança, e vincou que a decisão [de regressar aos trabalhos ou suspender o investimento] é uma decisão de todos os parceiros no projeto", escreveu a Bloomberg.
Na conversa, o líder da petrolífera francesa rejeitou a ideia de que terá de haver uma escolha entre o regresso a Moçambique ou a aposta no mercado de gás natural liquefeito, dizendo: "Estamos prontos e temos a capacidade para financiar ambos".
A TotalEnergies encarregou no princípio deste mês Jean-Christophe Rufin de avaliar a situação em Cabo Delgado, produzindo um relatório até final de fevereiro, para decidir se há condições para se retomar a construção da fábrica de liquefação de gás natural, a extrair da bacia do Rovuma, a 40 quilómetros da costa.
Moçambique tem três projetos de desenvolvimento aprovados para exploração das reservas de gás natural da bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, ao largo da costa de Cabo Delgado.
Dois desses projetos têm maior dimensão e preveem canalizar o gás do fundo do mar para terra, arrefecendo-o numa fábrica para o exportar por via marítima em estado líquido.
Um é liderado pela TotalEnergies (consórcio da Área 1) e as obras avançaram até à suspensão por tempo indeterminado, após um ataque armado a Palma, em março de 2021, altura em que a energética francesa declarou que só retomaria os trabalhos quando a zona fosse segura.
A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
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