Alunos do Técnico ficaram surpreendidos com o valor contratualizado de renda a pagar pela cadeia de supermercados, do grupo Jerónimo Martins, por cada um dos dois espaços de restauração no Pavilhão de Civil, no Campus da Alameda, em Lisboa.
A comunidade estudantil mostrou ainda receio que a oferta alimentar, que já considera "insuficiente", fosse reduzida com a instalação de um supermercado, com Miguel Félix, da plataforma de alunos Resist, a afirmar à Lusa que "não é claro" o futuro dos espaços.
O vice-presidente do IST Pedro Amaral negou que esses estabelecimentos, um bar e uma cantina até dezembro de 2022, sejam convertidos em supermercados.
O espaço sul vai manter-se como um bar, que "passará a ser mais moderno", com serviços self-service, enquanto a cantina, a norte do edifício, será um "espaço de restauração mais tradicional", estando inclusive prevista a instalação de ecrãs para pedir as refeições, explicou Pedro Amaral em declarações à Lusa.
Assinados em novembro de 2022, os contratos entre o Técnico e o Pingo Doce têm um valor conjunto de 48 mil euros, com a empresa a explorar durante dez anos os dois espaços e a pagar, por cada estabelecimento, uma renda mensal de 200 euros.
O grupo estudantil Resist destaca, na sua página de Instagram, que o montante é "inferior a metade do preço que em média os estudantes deslocados pagam por um quarto em Lisboa", e Miguel Félix diz ser "incompreensível" o montante, realçando que "outros espaços [no Campus da Alameda] pagam rendas maiores".
A Lusa consultou contratos relativos a outros espaços de restauração concessionados no campus (todos cafetarias) e verificou que, por alugueres mais curtos, as rendas pagas pelas empresas são superiores: 600 euros no Complexo Interdisciplinar, 1.205 euros na Torre Sul e 2.001 euros no Pavilhão Central.
No entanto, o vice-presidente do IST explicou que o acordo feito para o Pavilhão de Civil prevê "obras profundas".
"Baixámos o valor anual, mas aumentámos o prazo e obrigámos a fazer obras", resume assim o acordo, sendo que o anterior concessionário, Alfredo Jesus, pagava cerca de 8.075 euros por 11 meses de renda nos dois espaços (à volta de 734 euros por mês), e as obras de reabilitação nos espaços estavam orçadas em cerca de dois milhões de euros, acrescentou Pedro Amaral.
Numa resposta escrita enviada à Lusa, a faculdade explicou que os espaços não eram intervencionados "há mais de 30 anos" e que, sem conseguir qualquer "garantia" de obras por parte do anterior concessionário, o IST lançou, em 2021, um concurso para a incentivar a "concessão-construção" nos dois locais.
Esse procedimento ficou vazio, pelo que, numa consulta prévia feita no ano passado, o Pingo Doce foi a única empresa que aceitou as condições do Técnico e, portanto, o "vencedor do atual concurso".
O presidente da Associação de Estudantes do Técnico (AEIST), Bernardo Santos, aponta à Lusa que "a oferta alimentar que existe atualmente no IST não é, de todo, suficiente" e que os atuais estabelecimentos disponíveis, alguns abertos enquanto decorrem as obras, não respondem à procura, sendo "insustentável" que a antiga cantina social esteja a ser intervencionada ao mesmo tempo.
Tal como o grupo Resist, Bernardo Santos defende que o caminho deve ser o aumento da oferta do prato social (que tem um custo de 2,80 euros).
Sobre estas questões, a direção do IST afirmou que a antiga cantina social deve reabrir até ao final do ano letivo e que foi acrescentada uma tenda junto ao Pavilhão de Matemática, onde fica o atual refeitório, para mais pessoas poderem comer em simultâneo.
"O Técnico tentou que não houvesse sobreposição de obras", indica a faculdade na nota enviada, realçando que, na sequência das obras no edifício de Civil, "é possível antever que existirá um incremento de oferta e que esta irá ocupar quase a totalidade do tempo no segundo semestre.
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