Em entrevista à Lusa, o subdiretor do departamento dos assuntos orçamentais do Fundo Monetário Internacional (FMI), Paolo Mauro, considerou que se está "numa situação de normalização da política orçamental", três anos depois do início da pandemia e numa altura em que a maioria das grandes medidas de emergência que foram tomadas em 2020, devido à pandemia, já não existem.
"Temos uma inflação alta, temos dívidas elevadas e, portanto, a prioridade dos governos deve ser mais contenção na política orçamental. Dependendo das circunstâncias específicas do país, faz sentido ser contido ou mesmo apertar a política orçamental. Em termos gerais, o que isso faz no curto prazo é ajudar os bancos centrais a não terem de aumentar tanto as taxas de juro", explicou.
Paolo Mauro argumentou que em março de 2020, quando a pandemia começou, "fazia sentido que os bancos centrais e os governos tomassem medidas excecionais para apoiar as pessoas e as empresas", para que fosse possível "sobreviver à emergência", mas também não se entrasse "numa situação de implosão económica e em deflação", mas "agora a situação macroeconómica é completamente diferente".
Pelo que, considera, o foco deve ser continuar a reduzir o peso da dívida pública, tal como aconteceu em 2022.
"Talvez, mesmo com o aperto orçamental, os bancos centrais ainda tenham de aumentar um pouco as taxas de juros, mas pelo menos os decisores de política orçamental estão a fazer a sua parte para ajudar a reduzir a inflação. Na perspetiva de longo prazo, também criamos o espaço para que, se houver outra emergência, possamos enfrentá-la", afirmou.
O economista salientou que esta postura "também reduz a probabilidade de mais turbulência financeira", porque "alguns desses episódios", como os dos Estados Unidos, "foram desencadeados pelos rápidos aumentos nas taxas de juro".
"Se a política fiscal for mais rígida, isso ajudará os bancos centrais a não aumentarem tanto as taxas de juros", acrescentou.
Para o responsável do departamento do FMI, "historicamente os episódios de crises bancárias ou de quando os governos precisaram de apoiar atores do setor financeiro resultaram muitas vezes em grandes custos orçamentais".
"Isso é algo de que decisores precisam de estar cientes. A outra coisa é que, se for dado um apoio para apoiar um banco ou uma instituição financeira, representa dinheiro dos contribuintes e, portanto, é importante que os decisores de políticas protejam o dinheiro dos contribuintes", alerta.
"Há toda uma série de condições que podem ser impostas à entidade do setor financeiro. Se há dinheiro público, deve haver uma certa governança, deve haver certas condições", salientou.
Particularmente sobre a Europa, recomendou que o espaço orçamental deve ser reforçado, considerando que os governos devem continuar a apoiar os mais vulneráveis: "Mostramos no nosso relatório que, na verdade, é útil não apenas para os mais vulneráveis, mas também para toda a economia, porque ajuda a sustentar o consumo".
Alertou, contudo, para uma situação particular na Europa: a questão energética.
"Nessa área, o que recomendamos é, principalmente agora que os preços da energia parecem ter baixado, tentar dar os apoios de uma forma mais direcionada, não apostar nesses subsídios generalizados de energia", afirmou.
Paolo Mauro defendeu uma segurança para a "eletricidade e gás de cozinha para as famílias para consumo básico", mas por outro lado que os preços reflitam "as condições do mercado, porque é isso que dá incentivo para poupar energia, e também dá às empresas o incentivo para abandonar os combustíveis fósseis e optar por renováveis".
Para o economista, "o aumento de preços como resultado da invasão da Ucrânia pela Rússia deixou todos cientes de que a mudança para fontes renováveis é urgente, não apenas do ponto de vista da transição energética, mas também do ponto de vista da segurança energética".
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