No documento, divulgado pela instituição, e onde deu conta dos "principais riscos e vulnerabilidades para a estabilidade financeira", o BdP apontou "uma trajetória menos favorável para o rácio da dívida pública".
Para a instituição, a existência de "um enquadramento económico e financeiro potencialmente mais adverso, com menor crescimento económico e maior persistência da inflação, que motive uma reação mais restritiva e duradoura das autoridades monetárias, aumenta os riscos do elevado endividamento".
O BdP realçou, no entanto, que "a possibilidade de perturbações nos mercados financeiros internacionais, que originem aumentos injustificados dos prémios de risco soberano é mitigada pelo compromisso do BCE de garantir uma transmissão efetiva da política monetária a todas as jurisdições através do instrumento de proteção da transmissão da política monetária".
A instituição destacou que "a evolução das taxas de juro no mercado secundário encontrou paralelo no custo das novas emissões de dívida pública em mercado primário", sendo que "ao longo de 2022, as taxas de colocação de obrigações do Tesouro com maturidade aproximada de 10 anos aumentaram cerca de 3 pp [pontos percentuais]".
Já este ano, nas emissões realizadas no início de março, a 9,4 e 12,6 anos, "as taxas de colocação foram de 3,55% e 3,74%, respetivamente".
Paralelamente e em linha com a subida das taxas Euribor, "as taxas de colocação dos bilhetes do Tesouro aumentaram de forma marcada ao longo do segundo semestre de 2022 e início de 2023, atingindo 2,98% na emissão a 12 meses efetuada em 15 de março do corrente ano (no mês homólogo de 2022, a taxa de colocação tinha sido de -0,47%)".
O BdP recordou também que "a taxa de juro para novas subscrições e capitalizações de Certificados de Aforro (CA), Série E, fixou-se em 3,5% em março de 2023, valor máximo definido para a remuneração destes instrumentos de poupança".
Ainda assim, e "apesar desta dinâmica dos custos de novas emissões", o BdP considera que "a repercussão no custo médio do 'stock' de dívida deverá ser bastante contida nos próximos anos, atendendo, por um lado, a que cerca de 90% da dívida emitida tem taxa fixa e, por outro lado, a que a maior parte da dívida tem maturidades longas", destacou.
Além disso nos últimos anos "o menor peso dos bancos portugueses no conjunto dos detentores de dívida soberana portuguesa tem sido acompanhado de uma diversificação geográfica da sua exposição a soberanos" o que reduz "a sensibilidade a evoluções adversas no valor da dívida pública portuguesa".
Leia Também: IGCP 'chuta' maturidade de dívida de 2024 e 2027 para 2032 e 2042