A situação da Country Garden é consequência direta de uma crise de liquidez sem precedentes no imobiliário da China, suscitada por uma campanha lançada por Pequim para reduzir os níveis de alavancagem no setor, que representa um quarto do PIB (Produto Interno Bruto) chinês.
A Country Garden está presente sobretudo em cidades de pequena e média dimensão e emprega dezenas de milhares de funcionários.
O grupo consta na lista das 500 maiores empresas do mundo da Forbes e a sua chefe, Yang Huiyan, era até recentemente a mulher mais rica da Ásia.
Mas a Country Garden não conseguiu na segunda-feira passada cumprir com o pagamento do cupão de dois títulos obrigacionistas. O grupo corre assim o risco de entrar oficialmente em incumprimento após um período de carência de 30 dias.
A empresa estimou a sua dívida em cerca de 150 mil milhões de euros, no final de 2022. A agência Bloomberg estima que a dívida ascende a cerca de 176 mil milhões de euros.
As ações da Country Garden tombaram 16,3% na Bolsa de Valores de Hong Kong, a meio da sessão de hoje.
A dona da Country Garden admitiu na sexta-feira passada numa carta que a empresa enfrenta as "maiores dificuldades" desde a sua criação por causa da conjuntura económica.
Yang Huiyan, que se tornou bilionária aos 25 anos ao herdar as ações do grupo fundado pelo pai, disse, no entanto, que a Country Garden vai lutar pela sua sobrevivência.
Tal como no caso da Evergrande (outra grande empresa imobiliária da China), cujo passivo supera os 300 mil milhões de euros, qualquer colapso da Country Garden teria repercussões catastróficas no sistema financeiro e na economia chinesa.
O grupo, que deve publicar os seus resultados semestrais ainda este mês, diz esperar um prejuízo líquido entre 5,6 e 7 mil milhões de euros.
Segundo a agência de 'rating' Moody's, 3,9 mil milhões de euros em títulos de dívida emitidos pela empresa vão vencer em 2024.
A Moody's baixou na quinta-feira a classificação da dívida do grupo para "Caa2", sinónimo de "risco de crédito muito alto".
A reforma habitacional na China, no final da década de 1990, levou a um 'boom' no setor, alimentado pelas normas sociais. A aquisição de casa própria é muitas vezes pré-requisito para casar.
No entanto, em 2021, os reguladores chineses passaram a exigir às construtoras um teto de 70% na relação entre passivo e ativos e um limite de 100% da dívida líquida sobre o património, suscitando uma crise de liquidez no setor.
A falta de liquidez no setor fez com que várias obras em todo o país fossem obrigadas a parar, o que resultou, no verão passado, num "boicote às hipotecas", que se estendeu a mais de uma centena de cidades, com os compradores de apartamentos inacabados a deixarem de pagar a prestação mensal aos bancos.
Nos últimos meses, o Governo mudou de rumo e anunciou várias medidas de apoio, inclusive a abertura de linhas de crédito, cujo objetivo prioritário é finalizar empreendimentos cujas obras ficaram por completar.
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