"Infelizmente, parece-nos que não vamos conseguir travar essa intenção da Irlanda. Receio é que isto se alastre para outros países, porque estamos a passar informações ao consumidor sobre os riscos do consumo moderado de vinho, que não são verídicos, não são reais e que não têm nenhum estudo científico por trás", afirmou à agência Lusa à margem de uma prova de vinhos portugueses em Londres.
A República da Irlanda promulgou em maio legislação para a decisão incluir em todas as garrafas de bebidas alcoólicas uma referência que alerte que o seu consumo é nocivo para a saúde, nomeadamente que aumenta o risco de cancro.
As novas regras, que também abrangem o vinho, vão tornar-se obrigatórias a partir de maio de 2026.
A Organização Mundial da Saúde aplaudiu na altura a medida, alegando que "o consumo de álcool pode ter efeitos devastadores nos indivíduos e nas comunidades, causando mais de 200 doenças e afeções, incluindo sete tipos de cancro".
"Na UE, os níveis de consumo de álcool ligeiro a moderado foram responsáveis por quase 23.000 novos casos de cancro em 2017, quase metade dos quais eram cancros da mama femininos", referiu em comunicado.
O Governo português, juntamente com Espanha, Itália e França, argumentaram contra junto da Comissão Europeia.
O jornal Expresso noticiou na sexta-feira que o executivo enviou um parecer em agosto para Bruxelas, argumentando que a introdução de alertas nos rótulos de bebidas alcoólicas sobre os perigos para a saúde é "inconsistente" e "incompatível" com as atuais regras da UE relativas à rotulagem de produtos.
A Agência Lusa pediu acesso a este documento, mas o Ministério da Agricultura e Alimentação não respondeu em tempo útil.
O presidente da ViniPortugal, organização que agrupa estruturas associativas e organizações de profissionais do setor com a missão de promover os vinhos portugueses no exterior, confirmou hoje a existência de um documento enviado durante o verão.
"Nós defendemos o facto de que não há evidências científicas para justificar que o consumo moderado - ninguém fala em consumo excessivo - de vinhos não tem riscos ou efeitos como cancros", afirmou hoje à Lusa.
Falcão disse não acreditar "que venha a haver resposta por parte da União Europeia e duvido muito que a União Europeia obrigue a Irlanda a voltar atrás na sua decisão".
"O impacto no mercado da Irlanda em si não terá um impacto muito grande, o problema é se houver alastramento desta medida a outros mercados como o Reino Unido e os países nórdicos", vincou.
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