Raspadinhas são um problema para 100 mil pessoas. Quem mais joga?

A conclusão é do estudo 'Quem paga a raspadinha?', promovido pelo Conselho Económico e Social (CES), que será apresentado esta terça-feira. 

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© Jessica Rinaldi/The Boston Globe via Getty Images

Notícias ao Minuto com Lusa
19/09/2023 07:43 ‧ 19/09/2023 por Notícias ao Minuto com Lusa

Economia

Raspadinhas

O jogo da raspadinha é um problema para cerca de 100 mil pessoas e 30 mil que jogam com regularidade têm perturbação de jogo patológico. A conclusão é do estudo 'Quem paga a raspadinha?', promovido pelo Conselho Económico e Social (CES), que será apresentado esta terça-feira. 

As principais ideias do estudo, que está a ser citado pela imprensa nacional, revelam ainda o consumo frequente de raspadinhas é três vezes mais comum nas pessoas de baixos rendimentos.

O estudo revela ainda que os portugueses gastam, em média, 54 euros por ano em raspadinhas, mas é a população que ganha entre 400 euros e 664 euros que chama mais à atenção: estes jogam 3,1 vezes mais do que quem recebe mais de 1.500 euros.

O consumidor frequente tem mais de 50 anos, o ensino básico ou secundário e rendimentos abaixo do ordenado mínimo.

Em março, refira-se, a DECO Proteste explicou que o jogo da raspadinha é apreciado por muitos devido ao "'shot' de dopamina que é libertado no cérebro quando sai um prémio", mas a organização de defesa do consumidor alertou que não se trata de um investimento e o mais provável é perder todo o dinheiro que investiu. 

Raspadinhas? "Não são investimento" e "mais provável é perder o dinheiro"

Fique ainda a par das recomendações da DECO Proteste.

Notícias ao Minuto | 10:02 - 09/03/2023

"As lotarias, como a raspadinha ou o euromilhões, não são um investimento. Aliás, o mais provável é perder todo o dinheiro apostado. A raspadinha é um entretenimento apreciado por muitas pessoas que jogam pelo 'shot' de dopamina que é libertado no cérebro quando sai um prémio", diz a organização de defesa do consumidor. 

Como "proporciona ganhos frequentes — mais imediatos do que o euromilhões — torna-se rapidamente viciante".

Contudo, a DECO Proteste deixa um conselho: "Resista a permitir-se jogar de forma sucessiva, conheça melhor as regras do jogo e saiba como minimizar as perdas".

Segundo o estudo, que validou 2.554 entrevistas, "o consumo frequente de raspadinhas é mais comum nas pessoas com baixos rendimentos", precisando que é três vezes mais frequente numa pessoa com rendimentos entre os 400 e os 664 euros por mês do que nas pessoas com mais de 1.500 mensais.

A aposta neste jogo também é mais comum nas pessoas com ensino básico e secundário (5.8 e 3.9 vezes maior probabilidade do que as pessoas com mestrado/doutoramento).

Outra das conclusões do estudo nacional aponta que são as mulheres (53,15%) quem apresenta mais problemas com o jogo, contra 46,85% dos homens.

Dos 221 inquiridos que dizem jogar regularmente, 112 (51%) afirmaram que jogam semanalmente, 91 (41%) mensalmente e 18 (8%) diariamente.

A investigação conclui que 3,09% dos adultos estão em risco de desenvolver problemas de jogo e estima que esses problemas possam afetar 1,21% da população adulta.

Contactado pela agência Lusa, o psicólogo e coordenador do Instituto de Apoio ao Jogador, Pedro Hubert, admitiu que o instituto recebe pessoas com problemas relacionados com a raspadinha.

"Só não recebemos mais em grande parte porque, sendo um instituto particular e privado, muitas vezes as pessoas não têm capacidade financeira para pagar" os tratamentos.

O técnico de aconselhamento em adições na área do jogo patológico referiu que, tal como diz o estudo, quem mais aposta na lotaria instantânea (raspadinha) da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa "são pessoas com menos capacidades económicas, muitas vezes com maior idade, menores estudos e muitas vezes com problemas de ansiedade ou depressão associados".

Observando que a raspadinha "está muito implementada do ponto de vista cultural, social", com as pessoas a jogarem e a oferecerem raspadinhas, devia haver mais informação no sentido de prevenir comportamentos de adição.

A prevenção, defendeu, "passa essencialmente por muita informação, que deve passar, não só nos locais de jogo, mas também na televisão", com a mensagem de que "o jogo é algo recreativo e não para investimento": "É para a pessoa se divertir, não é para ajudar a aumentar a reforma ou para pagar a renda da casa ou para ter mais algum dinheiro".

Muitas pessoas jogam porque pensam que vão conseguir ganhar dinheiro e, quando perdem o que ganharam, vão querer recuperar o dinheiro, explicou o especialista.

Pedro Hubert alerta que há vários fatores que elevam o potencial de risco da raspadinha, nomeadamente para quem tem uma certa predisposição para a adição: o facto de se poder comprar e apostar "muitas vezes num minuto" na raspadinha, a par da acessibilidade, da disponibilidade, do preço baixo e dos prémios elevados.

O risco é também maior para "as pessoas que têm mais dificuldades ou que têm menos noção do que é a estatística e de que o jogo está mais a favor da casa do que das pessoas que compram".

Para prevenir problemas de dependência do jogo, o especialista referiu que deveria haver informação nos locais de venda sobre os sintomas de quem tem problemas com o jogo e divulgação de linhas de apoio como, por exemplo, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, defendendo ainda a possibilidade de o jogador pedir autoexclusão.

Defendeu ainda um trabalho conjunto entre o Estado e o departamento de Jogos da Santa Casa e mais investigação, como esta da Universidade do Minho, "que é muito meritória", no sentido de proteger as pessoas que possam vir a ter problemas e as que já os têm.

"Portanto, trabalhar todos em conjunto, no sentido de uma maior prevenção e também, não menos importante, que haja um tratamento mais eficaz destas pessoas que têm problemas de abuso ou dependência", rematou Pedro Hubert.

Segundo o relatório e contas da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) de 2020, o último disponível, a raspadinha é a "rainha" dos jogos sociais, tendo atribuído cerca de 2,8 milhões de prémios semanais, o que se traduz em mais de 17,2 milhões de euros.

Segundo o Plano e Orçamento da SCML de 2022, a Raspadinha representou em 2020 vendas reais de 1,44 mil milhões de euros, cerca de metade do total das vendas dos jogos sociais, que incluem totoloto, totobola euromilhões, lotarias e outros jogos.

[Notícia atualizada às 13h07]

Leia Também: Raspadinhas? "Não são investimento" e "mais provável é perder o dinheiro"

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