O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, esclareceu que não desviou as suas atenções do cargo que ocupa no supervisor da banca, mesmo com o convite do primeiro-ministro, António Costa, negando ter ambições políticas.
"Apenas recebi uma chamada que me honrou muito, mas faz parte do passado. Nunca desviei a minha atenção do banco central. É o meu cargo atual", disse Centeno numa entrevista à Bloomberg. O governado do BdP explicou que só refletiu sobre a possibilidade de "ajudar o país num momento muito difícil", referindo-se à crise política.
Questionado sobre se tem ambições políticas, Centeno recusou esta tese: "Não, de todo".
Centeno adiantou ainda que essa fase já "acabou" e que Portugal vai agora entrar em processo eleitoral "como a democracia funciona e tudo ficará bem".
Em causa está a polémica que o envolveu por ter sido proposto pelo atual primeiro-ministro, António Costa, para o substituir no cargo.
Mesmo depois de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter decidido que haverá eleições legislativas antecipadas em 10 de março, na sequência da demissão de António Costa (por ser alvo de uma investigação do Ministério Público), a sugestão de Centeno levou a críticas de partidos da oposição e a um diferendo entre governador e Chefe de Estado.
Em declarações ao jornal Financial Times, no domingo, o governador do Banco de Portugal afirmou que teve "um convite do Presidente e do primeiro-ministro para refletir e considerar a possibilidade de liderar o Governo" e que estava "muito longe de tomar uma decisão".
Em reação, na madrugada de domingo para segunda-feira, o Presidente da República publicou uma nota a negar que tenha convidado quem quer que seja para chefiar o Governo, incluindo o governador do Banco de Portugal ou autorizado qualquer contacto para este efeito.
A declaração de Marcelo Rebelo de Sousa levou Centeno, em comunicado, a corrigir a sua declaração: "É inequívoco que o senhor Presidente da República não me convidou para chefiar o Governo", já que optou por dissolver a Assembleia da República.
A conduta de Mário Centeno levou a uma reunião extraordinária da Comissão de Ética do Banco de Portugal, para ser avaliada, tendo esta considerado que o governador cumpriu os deveres gerais de conduta e "agiu com a reserva exigível". Contudo, acrescenta que, "no plano objetivo, os desenvolvimentos político-mediáticos subsequentes podem trazer danos à imagem do Banco", considerando que "a defesa da instituição é ainda mais relevante num período como o atual".
Neste sentido, recomenda a comissão presidida por Rui Vilar que "o governador, a Administração e o Banco no seu todo continuem empenhados na salvaguarda da imagem e reputação do Banco de Portugal".
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