Frente ao hotel Ritz, no centro de Lisboa, os trabalhadores colocaram um 'cartoon' onde se lê "Navigator vs Trabalhadores, Missão zero aumentos" e gritam "queremos aumentos de salários" e "negociação sim, imposição não".
"O que se sente em chão de fábrica é descontentamento generalizado, ao contrário do que pintam, que há bom ambiente. Não, não há", disse Hugo Moreira, trabalhador na fábrica da Figueira da Foz e delegado sindical, ao microfone da concentração.
Segundo explicou à Lusa o dirigente da Fiequimetal (Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas, Eléctricas, Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica, Imprensa, Energia e Minas, afeta à CGTP) Mário Matos, a empresa aplicou o acordo que fez na Navigator Company com um sindicato a todos os trabalhadores do grupo Navigator UWF por ato de gestão.
Em resultado, o que houve foi uma antecipação da progressão de carreira (dependente da avaliação e em alguns casos com aumentos de poucos euros) quando, afirmou, uma coisa é carreira e outra é melhorar as tabelas salariais e aí não houve aumentos.
Nas tabelas salariais - o principal objeto das negociações salariais anuais - não houve qualquer aumento, disse, acrescentando que isto acontece quando 2023 foi o segundo melhor ano de sempre para a Navigator.
"A empresa vende à comunicação social aumentos de 6%. Onde estão? O que houve foi antecipação do plano de carreiras. O objetivo dos acionistas é que haja zero aumentos para trabalhadores", disse ao microfone da concentração.
O coordenador da Comissão de Trabalhadores da Navigator Papel Setúbal, Marcos Oliveira, considerou que este é um "protesto consciente e sério" que deveria fazer a gestão da empresa refletir, sobretudo depois de ter ignorado as decisões dos trabalhadores nos vários plenários realizados em janeiro e março, e voltar a dialogar com os sindicatos.
"Os órgãos sociais da Navigator, da Semapa e os acionistas devem ficar bastante preocupados porque este protesto é a prova de que foram tomadas decisões completamente erradas e é preciso sentar à mesa e reverter essas decisões", afirmou.
Um trabalhador de Setúbal que não quis dar o nome, pois afirmou que teme represálias, também vincou que o "aumento anual foi zero".
"Nós estamos ali para trabalhar e por turnos rotativos, folgas rotativas, férias marcadas por eles, um fim de semana livre por mês e aumento zero e ainda há coisas injustas a nível de prémio anual como 2,5 salário para chefes e para nós 0,45", afirmou à Lusa.
A Fiequimetal pedirá nos próximos dias à empresa o regresso às negociações. Se a resposta não for positiva, os trabalhadores irão reunir-se para avaliar novas formas de luta.
Segundo os sindicatos, a greve marcada para hoje não teve por objetivo paralisar as fábricas, mas permitir aos trabalhadores das fábricas de Setúbal, Figueira da Foz, Aveiro estarem presentes na concentração.
Presente na concentração, o secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, instou os trabalhadores à luta e disse que os acionistas não sabem o que é viver com 1.000 euros quando se reúnem num hotel cuja noite custa 1.200 euros.
"A única fonte se rendimento que a gente tem é o nosso trabalho, o nosso salário. Se dessa nossa fonte de rendimento sai 150 milhões de euros para meia dúzia [em dividendos] e para milhares uma bola de nada, isso não pode ser" afirmou.
Também membros do PCP e do BE estiveram presentes em manifestação de apoio.
A Navigator teve hoje a sua assembleia geral anual, tendo todas as propostas sido aprovadas, disse à Lusa fonte oficial. Entre as propostas estavam as contas de 2023 (lucros de 275 milhões de euros, menos 30% face aos 392 milhões de euros de 2022) e a distribuição de 150 milhões de euros em dividendos.
[Notícia atualizada às 15h25]
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