"As respostas ao Inquérito Trimestral de Conjuntura da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS) relativas ao primeiro trimestre de 2024 dão indícios de inversão da tendência de degradação da conjuntura da indústria portuguesa de calçado observada no último ano", informou hoje a associação setorial.
"De uma maneira geral, as respostas foram melhores do que no trimestre anterior e as previsões para o próximo trimestre apontam já para uma evolução positiva da situação", acrescenta.
De acordo com Boletim Trimestral de Conjuntura da APICCAPS, elaborado pela Universidade Católica do Porto, "no primeiro trimestre do ano, a produção e as encomendas tiveram ainda uma evolução desfavorável, mas menos acentuada do que nos trimestres anteriores".
Segundo as conclusões do estudo, no contexto de "um forte abrandamento das importações de calçado pelos principais importadores mundiais", a insuficiência de encomendas de clientes estrangeiros "é, por larga margem, a dificuldade mais mencionada pelas empresas".
Consequentemente, as empresas orientadas predominantemente para o mercado interno mostram-se mais satisfeitas do que as restantes.
Quanto às previsões para o segundo trimestre de 2024, a APICCAPS destaca que "são mais favoráveis, apontando para uma evolução positiva da produção e uma estabilização das encomendas".
"A previsão para o estado dos negócios apresenta também uma forte melhoria, mas as previsões pessimistas das empresas de menor dimensão implicam que se mantenha globalmente negativa", aponta o boletim de conjuntura.
Desta forma, a associação entende que o setor português de calçado "começa a dar os primeiros sinais consistentes de recuperação, não obstante o Eurostat indicar que o mercado permanece em baixa".
No primeiro trimestre do ano, a produção da indústria do calçado na União Europeia, segundo o Eurostat, recuou e permaneceu consideravelmente abaixo da verificada um ano antes: O índice de produção industrial para o conjunto dos 27 países membros diminuiu 5,7% face ao último trimestre de 2023 e 17,8% face ao trimestre homólogo do anterior.
A APICCAPS destaca que a quebra face ao trimestre anterior "foi bastante mais acentuada em Itália (-8,9%) do que em Espanha (-2,8%)" e nota que "estas tendências negativas não foram exclusivas da União Europeia". Na Turquia, por exemplo, o índice de produção industrial do calçado recuou 2,3% no primeiro trimestre face ao anterior e 20,6% face ao trimestre homólogo do ano anterior.
Quanto aos preços do calçado ao nível do produtor, continuaram a abrandar, tendo aumentado 0,4% no primeiro trimestre face ao trimestre anterior e 3,1% face ao trimestre homólogo no conjunto dos 27 países membros da UE.
"Tanto em Itália como em Espanha, concorrentes diretos do calçado português, o crescimento homólogo ficou aquém da média da União", detalha a APICCAPS.
Em 2023, as estatísticas de comércio externo disponíveis indicam que se registaram fortes quebras nas importações de calçado de vários dos principais importadores mundiais, destacando-se (quando avaliadas em euros) as importações da Alemanha (-16%), Reino Unido (-20%) e EUA, o principal importador mundial (-32%).
O presidente da APICCAPS, Luís Onofre, nota que o setor do calçado "está muito dependente da evolução dos mercados externos, para onde exporta mais de 90% da sua produção", mas salienta que "as empresas portuguesas têm feito investimentos significativos nas áreas da automação, digitalização e sustentabilidade, procurando assim assegurar novos ganhos competitivos".
"Esperamos que a recuperação da economia internacional se comece a efetuar já na segunda metade deste ano", sublinha.
As mais recentes perspetivas sobre a economia mundial publicadas em abril pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam que, em 2023, a economia mundial terá crescido 3,2%, apenas um pouco menos do que no ano anterior.
No entanto, registou-se um forte abrandamento na área euro, destino predominante das exportações portuguesas de calçado, que cresceu apenas 0,4%, sendo que a economia da Alemanha, principal mercado das exportações nacionais, recuou mesmo 0,3%.
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