"Os impactos das mais recentes notícias da Inapa no setor e na própria bolsa deverão ser praticamente nulos devido à pouca expressão/visibilidade dos seus títulos", disso, por escrito, Pedro Oliveira, 'trader' da sala de mercados do Banco Carregosa.
Nuno Mello, da XTB, tem uma opinião semelhante. "O impacto na bolsa nacional é pequeno, uma vez que a empresa tem uma capitalização bolsista atual de apenas 15,47 milhões de euros", referiu.
"Olhando para as restantes cotadas do setor nas últimas semanas vemos que não há qualquer correlação no seu desempenho e muito menos correlação com o desempenho do índice devido à liquidez praticamente inexistente", acrescentou Pedro Oliveira.
Detalhou ainda que "nos últimos seis meses as ações da Inapa desvalorizaram aproximadamente 6%, mas de uma forma regular, mantendo uma tendência negativa iniciada em finais de janeiro de 2023".
Nuno Mello, por sua vez, apontou que "as ações da empresa vinham a cair desde o máximo relativo de fevereiro de 2023, tendo caído desde este máximo nos 0,071 euros quase 59% para o valor atual nos 0,0294 euros".
Quanto ao impacto no setor, o analista da XTB disse que, "enquanto 'player' de referência no setor da distribuição de papel na Europa Ocidental, a falência da empresa cria oportunidades para outros 'players' ocuparem o seu espaço, sobretudo na Alemanha e França, onde a empresa tinha um maior volume de negócios".
Ainda assim, salientou, "vale a pena relembrar que o setor do papel é um setor em contração devido ao fenómeno de digitalização, pelo que as empresas deste setor deverão diversificar as suas áreas de atuação".
Questionados sobre a previsibilidade deste desfecho para a Inapa, o 'trader' do Banco Carregosa disse que não é possível afirmar que estivesse à espera, mas "os sinais que a cotada ia dando em bolsa eram de alguma fragilidade tendo em conta não só o seu desempenho, mas também a pouca procura dos investidores na aquisição dos títulos da empresa o que se traduzia num volume de negociação diário muito reduzido".
Já Nuno Mello considera que "esta situação era previsível" uma vez que "o crescimento das receitas da empresa era negativo desde o primeiro trimestre de 2023", destacando ainda que, além disso, "mais de metade dos ativos da empresa atualmente eram constituídos pelo 'goodwill' e ativos intangíveis".
A Inapa, detida sobretudo pelo Estado e que anunciou que vai pedir insolvência, tem a sua principal operação na Alemanha, onde estão a maioria dos 1.500 trabalhadores do grupo.
Segundo o relatório e contas de 2023, a distribuidora de papel (mas que também opera dos setores de embalagem e comunicação visual) tem 1.478 trabalhadores e opera em 10 países (Portugal, Alemanha, França, Bélgica, Luxemburgo, Espanha, Áustria, Países Baixos, Turquia e Angola).
No domingo à noite, em comunicado ao mercado, a Inapa anunciou que vai declarar insolvência "nos próximos dias".
A empresa disse que não encontrou fundos para uma "carência de tesouraria de curto prazo" de 12 milhões de euros na sua subsidiária alemã Inapa Deutschland e que, face a isso, o Conselho de Administração concluiu "pela consequente e iminente insolvência da Inapa IPG", ao abrigo da lei portuguesa.
A Inapa alega que envidou "todos os esforços atempadamente" junto de credores e acionistas, em particular do maior acionista, a empresa pública Parpública, para evitar a insolvência da subsidiária alemã, mas que sem isso se apresentará à insolvência nos próximos dias.
O Ministério das Finanças, por sua vez, disse hoje que a Parpública não vai dar à Inapa os financiamentos pedidos e que irá acompanhar a insolvência da empresa.
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