A privatização da Sonangol através do processo de dispersão de 30% do seu capital em bolsa estava inicialmente prevista para este ano, mas foi adiada entretanto para 2026.
"Há um tema muito importante que tem a ver com as subvenções [aos combustíveis], este tema precisa de ser ultrapassado" devido aos impactos do diferencial entre o preço a que são importados combustíveis e o custo a que são vendidos, com perdas significativas para a empresa, disse à Lusa Baltazar Miguel.
"É mais difícil ter investidores que invistam numa empresa que tem esses temas por solucionar", justificou o administrador executivo da Sonangol, em declarações à Lusa à margem do evento "Conversas Economia Sem Makas", que decorreu na segunda-feira em Luanda.
Baltazar Miguel adiantou que a empresa tem trabalhado com o executivo nesta matéria, tendo alcançado um acordo para amortizar cerca de 4,5 mil milhões de dólares de dívida com a Sonangol.
Entretanto a Sonangol já privatizou 49 empresas do grupo dispersas pela banca, setor imobiliário, logística, telecomunicações e outras áreas não centrais.
Quanto à participação no português Millennium BCP, é para manter, "já que a valorização do banco é muito maior e os dividendos começam a surgir", prosseguiu o responsável.
Sobre os resultados obtidos no ano passado, Baltazar Miguel considerou que estão em linha com as previsões, sobretudo no que diz respeito aos proveitos, tendo em conta a queda do preço do barril de petróleo em cerca de 20% logo no início do ano.
"Grande parte dos nossos proveitos, acima de 60%, vêm da venda do petróleo bruto e foi assim que fizemos todos os ajustamentos internos a nível da estrutura de custos, e não só, para que alcançássemos os resultados positivos", salientou.
A Sonangol fechou o ano de 2023 com um resultado líquido positivo de cerca de 1.356 milhões de dólares.
A petrolífera refere no documento que a redução do preço do barril, conjugada com ambiente geopolítico e a consequente alteração do comportamento dos mercados resultaram na redução do volume de negócios consolidado da Sonangol, embora considere ter mantido "um performance sólida" com um volume de negócios de 11.483 milhões de dólares e um EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 3.666 milhões de dólares.
A Sonangol antecipa também resultados positivos em 2024, disse Baltazar Miguel, apesar pressões associadas à queda do preço do barril: "o nosso cenário de trabalho é com o barril a 65 dólares e se se mantiver este nível no mercado internacional teremos resultados positivos facilmente".
Mas, se os preços baixarem, serão necessários "ajustamentos substanciais" a nível dos projetos, "sobretudo a carteira de investimentos e a estrutura de custos da organização", acrescentou.
Mas o que mais preocupa é o próximo ano, assinalou, apontando a imprevisibilidade internacional, incluindo um possível fim da guerra na Ucrânia ou a possível eleição para a Casa Branca de Donald Trump, que tem a intenção de aumentar a produção de petróleo nos EUA, "o que teria um impacto muito forte na sustentabilidade dos preços do barril".
A nível interno, a Sonangol está focada na diversificação, nomeadamente nos projetos de gás, mas também no petróleo.
"Nos últimos cinco anos, a média de investimento no setor petrolífero foi de 45 mil milhões de dólares e nestes próximos cinco anos ficará acima dos 71 a 72 mil milhões de dólares", disse lembrando que a Sonangol é parceira em todos os blocos em produção em Angola e é o maior investidor do setor petrolífero.
"Estamos a fazer um grande trabalho conjunto a nível dos campos marginais e com a produção incremental para (...) manter a produção em um milhão de barris por/dia", complementou.
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