Há várias perguntas ainda sem resposta no que diz respeito ao desastre aéreo mais mortífero em solo sul-coreano, que vitimou todos os 175 passageiros e quatro dos seis tripulantes a bordo, ao tentar aterrar no aeroporto internacional de Muan, na manhã de domingo. Apenas duas pessoas sobreviveram. Agora, as autoridades sul-coreanas estão a investigar a queda do voo 7C2216 da Jeju Air, incluindo o impacto de uma possível colisão com aves e as condições meteorológicas.
“Nesta altura, há muito mais perguntas do que respostas. Porque é que o avião ia tão depressa? Porque é que os flaps não estavam abertos? Porque é que o trem de aterragem não estava baixado? […] É claro que pode ter havido uma colisão com um pássaro, mas as consequências são demasiado grandes para que essa seja a causa direta do acidente”, apontou o perito em aviação e antigo professor na academia da força aérea italiana Gregory Alegi, em declarações à agência Reuters.
Por seu turno, o especialista em segurança aérea e piloto da Lufthansa Christian Beckert afirmou que as imagens divulgadas sugerem que, além dos reversores, a maioria dos sistemas de travagem do avião não foram ativados, criando um “grande problema”. Ainda assim, Beckert considerou que era improvável que uma colisão com um pássaro tivesse danificado o trem de aterragem enquanto este ainda estava levantado e que, se tivesse acontecido quando estava baixado, teria sido difícil levantá-lo novamente.
“É muito, muito raro e muito invulgar não baixar o trem de aterragem, porque existem sistemas independentes que nos permitem baixá-lo”, disse.
Já o vice-ministro dos Transportes, Joo Jong-wan, afirmou que o comprimento da pista de 2.800 metros não foi um fator contributivo e que as paredes nas extremidades foram construídas de acordo com as normas da indústria.
É que, recorde-se, o Boeing 737-8AS, procedente da capital da Tailândia, Banguecoque, colidiu com uma vedação de betão e incendiou-se. As autoridades aeroportuárias disseram que a aeronave estava a tentar uma aterragem forçada, por volta das 09h07 (00h07 em Lisboa), após uma primeira tentativa falhada, devido a uma avaria do trem de aterragem, possivelmente causada pela colisão com um pássaro. No entanto, o avião não terá conseguido reduzir a velocidade até chegar ao fim da pista, o que provocou o desastre aéreo.
As autoridades confirmaram que viajavam no avião dois passageiros tailandeses, sendo os restantes sul-coreanos. Entre eles estava cinco crianças com menos de 10 anos, sendo que a maioria dos passageiros tinha entre 40 e 60 anos. A vítima mais nova é um menino de três anos e a mais velha tem 78 anos.
Pelo menos 140 das 179 vítimas mortais foram identificadas, tendo as autoridades transferido a grande maioria para uma morgue temporária.
"Assim que estivermos prontos para transferir os corpos após as autópsias das agências de investigação, entraremos em contacto com as famílias", disse um funcionário sul-coreano citado pela agência de notícias sul-coreana Yonhap.
As duas caixas negras, que registam todos os dados de um voo, foram encontradas horas depois do acidente, embora o Ministério dos Transportes sul-coreano tenha informado que o gravador de dados de voo (FDR) ficou danificado, o que poderá atrasar a investigação entre um a seis meses.
Saliente-se que o governo sul-coreano anunciou a realização de "inspeções rigorosas de segurança" à companhia aérea Jeju Air, esta segunda-feira, na sequência de dois episódios com problemas no trem de aterragem.
"Planeamos implementar inspeções rigorosas de segurança aérea, em resposta aos incidentes com os trens de aterragem", afirmou Joo Jong-wan, responsável pelo departamento de aviação no ministério sul-coreano dos Transportes, após uma reunião em Seul.
O responsável referiu que a Jeju Air, uma das principais transportadoras aéreas de baixo custo do país, é conhecida pela elevada taxa de utilização dos aviões, o que, segundo alguns peritos, poderá ter contribuído para os incidentes.
O funcionário do ministério sul-coreano dos Transportes acrescentou que o Conselho Nacional de Segurança dos Transportes dos Estados Unidos vai estar envolvido na investigação dos incidentes e que a Boeing, fabricante de ambos os aviões do mesmo modelo, também foi contactada para cooperar.
Isto porque o voo 7C101 da Jeju Air foi hoje forçado a regressar ao aeroporto de partida, o Aeroporto Internacional de Gimpo, depois de registar uma anomalia com o trem de aterragem, semelhante ao problema ocorrido com o aparelho que falhou a aterragem no domingo no aeroporto de Muan, acidente que causou a morte de 179 pessoas.
A companhia aérea informou os 161 passageiros da avaria mecânica no trem de aterragem e regressou a Gimpo às 07h25 (23h25 em Lisboa), sem mais incidentes, disseram fontes aeroportuárias.
A transportadora, a mesma que efetuou o voo de domingo, disse que tenciona retomar as operações depois de trocar de aparelho, também um Boeing 737-800, considerado um dos mais seguros do mundo.
Recorde-se que a última vez que o país sofreu um desastre aéreo de grande escala foi em 1997, quando um avião da companhia aérea sul-coreana Korean Airline se despenhou no território norte-americano de Guam, matando as 228 pessoas a bordo.
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