"Somos contra a medida, claramente somos contra a medida, porque achamos que esta medida tem consequências diretas negativas para todo o mercado", afirmou o secretário-geral da APAN, Ricardo Torres Assunção, em declarações à agência Lusa.
O responsável da entidade que representa mais de 95 anunciantes e 80% do investimento publicitário em Portugal começou por lamentar que o Governo tenha tomado uma decisão destas sem consultar quem investe nos órgãos de comunicação.
"E não é uma parte qualquer, é a parte onde está o dinheiro", sublinhou.
A APAN alertou que já existe uma saturação dos blocos publicitários nos principais meios privados, que esta medida vai acentuar, podendo dar origem a uma "pressão inflacionária" nos espaços publicitários em horário nobre.
"Hoje em dia, sabemos que os consumidores estão em múltiplos meios e as análises dos investimentos de 'media' são ponderadas e controladas e avaliadas até ao último cêntimo", apontou Ricardo Torres Assunção, alertando que poderá deixar de ser atrativo para os anunciantes continuar a investir na televisão, com risco de desvio daquelas verbas para plataformas digitais.
Para a associação, as marcas têm também um papel fundamental na sociedade, porque são elas que, por vezes, começam a abordar questões 'tabu', como, por exemplo, saúde mental, ou a menopausa.
"Estamos a tirar o acesso a esse conteúdo a quem vê a RTP", apontou o secretário-geral da APAN.
A associação disse que quer ser ouvida e vai contactar o Governo, para que a discussão se faça "a três, e não a dois", envolvendo o executivo, os órgãos de comunicação social e quem investe neles.
"Esperamos que o Governo perceba que desprezar 80% do que é o investimento publicitário em Portugal - e como sabemos os meios de comunicação social estão muito dependentes do investimento publicitário - não me parece que tenha sido muito pensado esquecer uma parte importante nesta negociação", realçou o responsável.
A associação disse que os anunciantes que o com o modelo atual de distribuição do mercado publicitário nas televisões, em que a RTP tem menos espaço do que os privados, é equilibrado, apesar de alguma saturação, mas manifestou-se disponível para discutir outras soluções.
O fim da publicidade na RTP, que será um processo gradual, é uma das 30 medidas do Plano de Ação para a Comunicação Social que foi apresentado, na terça-feira, pelo ministro da tutela, Pedro Duarte, e uma das quatro relativas à empresa.
Esta medida vai ter um impacto na redução de receita anual nos próximos três anos de aproximadamente 6,6 milhões de euros, segundo o plano para os media a que a Lusa teve acesso.
O presidente da RTP, Nicolau Santos, considerou que o fim da publicidade "significa perda de relevância" da empresa e recordou que esta muitas vezes serviu de estabilizador do mercado publicitário.
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