Apresentada no dia em que se inicia o Fórum Económico de Davos, na Suíça, onde chefes de Estado, representantes das principais economias do mundo e líderes empresariais e da sociedade civil discutem as questões mais urgentes do ano, a análise "Takers Not Makers" ("Tomadores, não Criadores") defende a necessidade de criar uma política fiscal global que garanta "que as pessoas e as empresas mais ricas pagam a sua parte justa".
A taxação de multimilionários deve, de acordo com a confederação de 19 organizações Ofxam, ser enquadrada numa nova convenção fiscal da ONU com o objetivo de reduzir as desigualdades económicas no mundo.
A confederação defende ainda a abolição dos paraísos fiscais, argumentando que metade dos multimilionários do mundo vive em países sem imposto sobre as heranças para os descendentes diretos.
"As heranças têm de ser tributadas para desmantelar a nova aristocracia", exige a Oxfam no estudo hoje divulgado.
É preciso "reduzir radicalmente a desigualdade", considera a confederação, argumentando que "os governos precisam de se comprometer a garantir que, tanto a nível global como a nível nacional, o rendimento dos 10% mais ricos não é superior ao dos 40% mais pobres".
Esta redução da desigualdade, acrescenta a Oxfam citando o Banco Mundial, "poderá acabar com a pobreza três vezes mais rapidamente".
Por outro lado, afirma, "os governos também têm de acabar com o racismo, o sexismo e as divisões que sustentam a exploração económica contínua".
No relatório hoje apresentado, as organizações não-governamentais que fazem parte da Oxfam exigem ainda que se acabe com o fluxo de riqueza do Sul para o Norte, seja através do cancelamento de dívidas, seja eliminando o domínio dos países ricos e das empresas sobre os mercados financeiros e as regras comerciais.
"Isto significa acabar com os monopólios, democratizar as regras das patentes e regular as empresas para garantir que pagam salários dignos e limitar a remuneração dos CEO [chief executive officer ou presidentes executivos de empresas]", refere.
Significa também "reestruturar os poderes de voto no Banco Mundial, no FMI e no Conselho de Segurança da ONU para garantir uma representação justa dos países do Sul Global", defende, referindo que "as antigas potências coloniais devem enfrentar os danos duradouros causados pelo seu domínio colonial, apresentar desculpas formais e fornecer reparações às comunidades afetadas".
De acordo com o documento, o "1% mais rico dos países do Norte Global, como os EUA, o Reino Unido e a França, extraiu cerca de 30 milhões de euros por hora do Sul Global através do sistema financeiro em 2023, além de que os países do Norte Global controlam 69% da riqueza global e albergam 68% dos multimilionários, apesar de representarem apenas 21% da população global".
Segundo o estudo, a riqueza dos multimilionários cresceu quase 2 biliões de euros em 2024, o equivalente a cerca de 5,5 mil milhões de euros por dia, o que representa um ritmo três vezes mais rápido do que no ano anterior.
Em média, a cada semana surgiram quatro novos multimilionários, passando para 2.769 pessoas no ano passado.
A sua riqueza combinada aumentou de quase 13 biliões de euros para cerca de 15 biliões de euros em apenas 12 meses, aponta a Oxfam, sublinhando que este foi o segundo maior aumento anual da riqueza dos multimilionários desde o início dos registos.
"Esta concentração cada vez maior de riqueza é possibilitada por uma concentração monopolista de poder, com os multimilionários a exercerem cada vez mais influência sobre as indústrias e a opinião pública", critica a Oxfam.
Mas o número de pessoas que vive na pobreza quase não muda desde 1990, de acordo com dados do Banco Mundial.
O relatório, publicado também no dia em que o bilionário Donald Trump, apoiado pelo homem mais rico do mundo, Elon Musk, é empossado como Presidente dos Estados Unidos, refere ainda que "a captura da economia global por alguns privilegiados atingiu níveis anteriormente considerados inimagináveis".
"O fracasso em travar os multimilionários está agora a gerar futuros trilionários. Não só a taxa de acumulação de riqueza bilionária acelerou --- triplicou --- como também o seu poder", afirma o diretor executivo da Oxfam Internacional, Amitabh Behar, no estudo.
"A joia da coroa desta oligarquia é um presidente bilionário, apoiado e comprado pelo homem mais rico do mundo, Elon Musk, que dirige a maior economia do mundo. Apresentamos este relatório como um forte aviso de que as pessoas comuns em todo o mundo estão a ser esmagadas pela enorme riqueza de alguns", sublinha Behar.
O relatório destaca ainda como, ao contrário da perceção popular, a riqueza dos multimilionários é, em grande parte, imerecida --- 60% da riqueza dos multimilionários provém agora de heranças, do poder de monopólios ou de ligações com 'compadres'.
"A riqueza imerecida e o colonialismo --- entendidos não só como uma história de extração brutal de riqueza, mas também como uma força poderosa por detrás dos atuais níveis extremos de desigualdade --- são dois dos principais impulsionadores da acumulação de riqueza bilionária", aponta a confederação.
A Oxfam calcula que 36% da riqueza dos multimilionários é atualmente resultado de heranças e diz que "muitos dos super-ricos, principalmente na Europa, devem parte da sua riqueza ao colonialismo histórico e à exploração de países mais pobres" e esta dinâmica persiste hoje em dia.
Os países de baixo e médio rendimento gastam, em média, quase metade dos seus orçamentos nacionais em pagamentos da dívida, lamenta o diretor executivo da Oxfam.
"Entretanto, o dinheiro desesperadamente necessário em todos os países para investir nos professores, comprar medicamentos e criar bons empregos está a ser desviado para as contas bancárias dos super-ricos. Isto não é apenas mau para a economia --- é mau para a humanidade", conclui.
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