Um avião da linha área Trás-os-Montes/Algarve, com origem em Bragança e destino a Portimão, ficou hoje retido em Cascais por alegadas dívidas da companhia Sevenair reclamadas pela autarquia, disse à Lusa fonte da empresa.
A empresa acusou no domingo o presidente da Câmara de Cascais de pretender paralisar os voos da linha regional, quando se encontra no final do último mandato e enfrenta "conflitos partidários internos".
Numa nota enviada hoje à Lusa, Carlos Carreiras (PSD) considera que a Sevenair tentou atacá-lo "politicamente para justificar a sua condição reiterada de mau pagador".
"A empresa Sevenair não tem legitimidade para colocar em causa a minha legitimidade enquanto presidente de Câmara e decide especular justificando [com] 'conflitos partidários internos'" que não existem, diz o autarca, considerando que a empresa "tenta imiscuir-se, pressionando a atividade autárquica".
Na nota, o autarca afirma estar "completamente de acordo e, como tal, solidário com a administração" da empresa municipal Cascais Dinâmica, que gere o Aeródromo Municipal de Cascais, em Tires.
"Reitero a minha total independência a grupos privados e não deixarei que os mesmos tentem direta ou indiretamente condicionar o meu mandato e interpreto o comunicado da Sevenair como desculpas de mau pagador", sublinha.
O avião partiu de Bragança e realizou paragens em Vila Real e Viseu, tendo aterrado com 15 passageiros, pelas 09:10, no aeródromo de Tires, onde ficou retido por não lhe ter sido dada autorização para prosseguir.
Em causa está um diferendo acerca de uma suposta dívida de taxas de 'handling', no valor de 107 mil euros a que acresce o IVA (ou um dívida de 132.471,95 euros, segundo a autarquia) que a Câmara de Cascais, através da empresa municipal Cascais Dinâmica, exige, mas que a empresa considera não ter de pagar.
Num comunicado enviado à agência Lusa, a Sevenair acusou no domingo o presidente da câmara de Cascais de ordenar a suspensão dos serviços do Aeródromo de Cascais à operação da linha área Trás-os-Montes/Algarve, visando "paralisar os voos" a partir de hoje.
"A empresa foi hoje [domingo] confrontada com uma situação inesperada. Um presidente de câmara, no final do seu mandato e com conflitos partidários internos, decidiu ser notícia e pedir os holofotes do escândalo, ordenando suspender os serviços de um aeródromo central à operação da linha regional, com a intenção de paralisar os voos a partir de amanhã [segunda-feira]", adiantava a Sevenair.
No comunicado, o grupo lamentava "profundamente esta atitude isolada e incoerente" do município, "que põe em risco a continuidade da ligação aérea, vital para as populações locais", acrescentando que "o Governo está a par desta situação e da atitude" de Carlos Carreiras.
A empresa destacou que, "não obstante as dificuldades financeiras que tem enfrentado e que são do conhecimento público, decorrentes dos atrasos de pagamento por parte do Governo Português, foi feito um esforço acrescido para liquidar todas as faturas pendentes relativas aos serviços prestados pela Cascais Dinâmica".
A Sevenair indicou ainda que, "considerando todas as empresas do grupo", o valor ascendia a 387 mil euros, em finais de 2024.
"No entanto, deste valor, a Sevenair requereu à Cascais Dinâmica a clarificação referente a uma taxa específica, aplicada desde 2022 na operação aérea regular. Essa taxa administrativa, aplicada a prestadores de serviços de Assistência em Escala, foi, na nossa interpretação, incorretamente aplicada à Sevenair S.A, totalizando o valor de 107.700 euros, acrescidos de IVA", revelou a empresa.
Numa resposta enviada à agência Lusa, a Cascais Dinâmica confirmou que "se encontram suspensos os serviços de três das seis empresas (grupo Sevenair) que operam no Aeródromo de Cascais, por falta de pagamentos" de forma reiterada.
A autarquia exige o pagamento de uma dívida total do grupo de 132.471,95 euros e reiterou que foram feitas diversas tentativas de cobrança, tendo a Sevenair admitido liquidar os valores em dívida, num email de 30 de dezembro de 2024, em três prestações mensais sucessivas.
"No entanto, apenas cumpriram com a 1.ª tranche a 31 de dezembro de 2024. Após vários contactos da nossa funcionária, numa tentativa de recebermos a 2.ª tranche, sem sucesso, no dia 19 de fevereiro 2025 houve novas interpelações às empresas do grupo Sevenair, quanto à dívida e com pedido de liquidação imediata em face de incumprimento de acordo, informando que dispunham de oito dias, após os quais, e continuando a verificar-se o incumprimento, os serviços seriam suspensos", alegou a autarquia.
A Cascais Dinâmica considerou ainda que, "perante valores devidos por empresas", tem o direito legal de "proceder a suspensão de serviços e retenção de bens das mesmas, incluindo aeronaves para pagamento de tais valores" e assegurou que, "logo que a Sevenair cumpra com as suas responsabilidades, a suspensão será levantada".
Leia Também: Sevenair acusa autarca de Cascais de parar rota a partir de 2.ª-feira