Diversificação dos destinos de exportação, aumentar o valor da sua produção nacional e fomentando alianças regionais - tais foram as recomendações avançadas por Pamela Coke-Hamilton, diretora executiva do Centro do Comércio Internacional (CCI), durante una reunião em Genebra.
"Se alguma vez houve um momento para fazer esta viragem, para a diversificação, a valorização e a integração regional -- o que designo por reglobalização estratégica -- é agora", acentuou.
A guerra comercial criada por Donald Trump coloca desafios importantes aos países mais vulneráveis, como Lesoto, Camboja, Laos ou ainda Madagáscar e Birmânia, detalhou.
Estes países pobres são "os mais expostos às instabilidades do sistema de comércio mundial e os menos equipados para se adaptarem em caso de necessidade", prosseguiu.
Alguns destes países dependem também de forma proporcionada do mercado dos EUA, desde logo porque para lá podem exportar os seus produtos sem pagar taxas alfandegárias, ao abrigo de uma lei aprovada pelo Congresso norte-americano, em maio de 2020, a African Growth and Opportunity Act.
O Lesoto -- "um país que ninguém conhece", segundo Trump, que quer taxar os seus produtos em 50% - é um dos beneficiários desta lei. Envia 60% das suas exportações de vestuário para o mercado dos EUA, que ascenderam a 230 milhões de dólares anuais nos últimos cinco anos.
Antes da suspensão das ditas "tarifas recíprocas", o Lesoto enfrentava perdas potenciais de exportação para o mercado dos EUA de 210 milhões de dólares anuais até 2029.
Para o Bangladesh, esta "tarifa recíproca" de 37%, se entrasse em vigor, significaria uma perda de exportações para os EUA de 3,3 mil milhões de dólares por ano, até 2029, segundo o CCI.
Para Coke-Hamilton, estes países "não devem colocar todos os ovos no mesmo cesto".
Assim, o Bangladesh poderia explorar os mercados europeus e o Lesoto mercados como a Bélgica ou o Eswatini.
Quanto à criação de valor, a ideia é transformar os produtos antes de os exportar, para ter margens melhores e amortecer choques como descidas repentinas dos preços do café, do cacau ou do cobre.
Por fim, o terceiro pontos sugerido é o da integração regional, à semelhança da Zona de Comércio Livre Continental Africana. Segundo o CCI, se as taxas alfandegárias fossem eliminadas, a Costa do Marfim poderia aumentar as suas exportações intra-africanas em 25%, compensado parcialmente as perdas antecipadas de 563 milhões de dólares no mercado dos EUA.
"Existem, portanto, oportunidades para os países em desenvolvimento não apenas enfrentarem períodos de incerteza, mas também de se prepararem de maneira proativa para o longo prazo", desenvolveu Coke-Hamilton.
Os países afetados têm capacidades diferentes de ligar com as alterações, disse. Como exemplificou: "A capacidade do Vietname mudar as suas cadeias de abastecimento ou virar-se para os mercados é muito, muito, maior do que a do Lesoto", o qual só produz têxtil e vestuário e diamantes.
Coke-Hamilton insistiu ainda nas oportunidades que estão por explorar.
"Existem muitos acordos (comerciais) que são vantajosos para os países em desenvolvimento, mas que não são explorados devido a constrangimentos do lado da oferta", apontou a dirigente do CCI.
A superação dos constrangimentos requer trabalhar no respeito de algumas normas e certos mecanismos de exportação, "que possam atualmente constituir um desafio para responder às exigências de alguns mercados".
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