"Uma empresa que vai vender 800 milhões de dólares não é uma startup"

O Economia ao Minuto esteve à conversa com o diretor-geral de uma das mais promissoras empresas nacionais. Uma das únicas empresas portuguesas que valem mais de mil milhões de dólares (mais de 940 milhões de euros), a Farfetch continua a ascensão meteórica.

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© Farfetch

Bruno Mourão
26/11/2016 09:30 ‧ 26/11/2016 por Bruno Mourão

Economia

Luís Teixeira

Desde o primeiro momento, a Farfetch respira profissionalismo. O ambiente acolhedor e a simpatia no primeiro contacto são uma imagem fiel da humildade e espírito de equipa, mas não impedem que o profissionalismo impere. 

No topo da pirâmide operacional, surge Luís Teixeira, diretor-geral da Farfetch e uma das mais emblemáticas caras da empresa que nasceu em Guimarães e com o espírito conquistador de D. Afonso Henriques, foi alargando a sua influência até conquistar lugar no panorama mundial. 

O conhecimento profundo de cada aspeto do negócio, os números e dados na ponta da língua e a abertura para falar de todos os temas foram constantes na conversa de Luís Teixeira com o Economia ao Minuto, que pode ler na íntegra este sábado e domingo. 

Na primeira parte, falamos com um dos líderes da Farfetch sobre a estrutura da empresa, o momento atual e o futuro próximo.

 

Sentem que ainda mantêm o famoso 'espírito de startup'? 

Nós não somos uma startup. Uma das únicas coisas que temos em comum com uma startup é o crescimento de quase 70%, e é muito diferente crescer 70% de 50 ou crescer 70% de 500. Nesse aspeto é um ambiente de startup e no aspeto de todos terem de fazer um bocadinho de tudo. Nós não temos grande espaço para egos, por isso todos nós temos de fazer um bocadinho de tudo. 

Antes de mais é preciso definir o que é o 'espírito de startup'. Se significa ter uma cultura jovem, ambiciosa e de ritmo acelerado, sim, temos. Mas tal como a Farfetch, há muitas outras empresas baseadas em valores e que vivem segundo esses valores. Nós temos valores e vivemos de acordo com eles. Mas dizer que por isso somos uma startup... não somos. Eu acho que isto é mais espírito de uma nova geração de empresas que está a surgir. 

Uma empresa que vai fazer este ano 800 milhões de dólares de vendas brutas não é uma startup. Mas mantemos o espírito de querer fazer coisas novas, das pessoas terem autonomia, serem ágeis. 

 

E é possível manter esse forte crescimento durante dois, três, quatro anos? 

O mercado de luxo é um mercado que em 2015 movimentou 250 mil milhões de dólares. Nós sabemos que em 2015, a nossa penetração no mercado online foi de 8%; as empresas que fazem estudos do setor dizem que em 2020 será mais de 15%; o mercado de luxo continua a crescer, portanto eu acho que a oportunidade é brutal

Nós temos dado os passos corretos para aproveitar essa oportunidade, temos sido muito bons nisso. Sim, temos projetos novos como o 'Black and White', mas sabemos que no nosso negócio central há muito por onde crescer e estamos muito focados. Se a nossa oportunidade no 'core', porque nos vamos distrair e afastar-nos do que sabemos fazer bem? 

Nós temos uma ambição muito grande e crescer 70% por cima do ano fantástico que já tivemos no ano passado... se calhar há dois anos nunca pensámos crescer tanto. E no próximo ano provavelmente também vamos crescer mais do que pensamos. Esses são bons problemas com os quais lidar não são? (risos) 

 

Estão completamente focados na área da moda de luxo, ou pensam começar outros produtos de gamas mais baixas? 

Não faz sentido. A oportunidade no segmento de luxo é tão grande e temos tanto ainda por fazer... Não vamos comprometer aquilo que temos estado a fazer. Estamos decididamente focados a curto e médio prazo no luxo. 

 

Pensam em criar sedes em mais países? E em abrir escritórios? 

Nós temos desde o início uma estrutura com duas sedes: Londres e Portugal. A forma como nós estamos organizados é: em Portugal temos o centro de tecnologia, o CTO (Diretor Técnico) e a parte das operações. Em Londres temos as funções mais comerciais e quem decide. Nós somos uma empresa global, temos um lema que é 'Think Global' e nesse âmbito, creio que teremos sempre a sede dividida entre os dois países.  

Nós usamos os escritórios nos mercados por duas razões: para suportar a oferta e a distribuição dos vendedores, como fazemos no Brasil, nos Estados Unidos ou em Hong Kong e termos pessoas que percebam os consumidores. É o que acontece no Brasil, nos Estados Unidos, Rússia, Japão, China... É importante termos pessoas que compreendam os mercados e termos apoio ao consumidor no próprio país. Importa também referir que a nossa estratégia não é pegar em pessoas de outros mercados e mandá-las para lá. Nós trabalhamos com equipas locais. 

Quando me pergunta se vamos ter mais escritórios: na perspetiva operacional, eu diria que se calhar faria sentido ter mais um escritório noutro país. Mas eu diria que no imediato não temos previstos mais escritórios. Se fôssemos abrir mais algum escritório, só veria como possibilidade um sítio (risos). 

 

A estrutura de duas sedes é uma vantagem ou uma desvantagem? 

Eu acho que é uma vantagem muito grande. Primeiro porque obriga-nos a trabalhar com pessoas diferentes: um lado criativo e um lado metodológico. É muito interessante ver como estas duas áreas se interligam, lutam, convivem juntas... 

No que toca a Portugal, nós temos grandes engenheiros. Ainda antes de se falar na Web Summit, nós já estávamos aqui, já estávamos em força e a qualidade dos nossos engenheiros é reconhecida. Só traz vantagens à nossa empresa.

[Leia amanhã a segunda parte da entrevista com Luís Teixeira no Economia ao Minuto]

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